Reflexões de um Caracol à Beira da Estrada
Será a experiência estética a experiência do mundo.... o devir é um devir estético... ou será que devo atravessar a estrada?
domingo, julho 23, 2006
Produção, Consumo, Distribuição, Troca (Circulação)
«O homem é, no sentido mais literal, um zoon politikon (animal político); não é simplesmente um animal social, é também um animal que só na sociedade se pode individualizar. A produção realizada por um individuo isolado, fora do âmbito da sociedade - fato excepcional, mas que pode acontecer, por exemplo, quando um indivíduo civilizado, que potencialmente possui já em si as forças próprias da sociedade, se extravia num lugar deserto - é um absurdo tão grande como a idéia de que a linguagem se pode desenvolver sem a presença de individuos que vivam juntos e falem uns com os outros. Não vale a pena determo-nos mais neste ponto. Nem seria sequer de abordar a questão, se esta tolice - que tinha sentido e razão de ser para os homens do século XVIII -não tivesse sido novamente introduzida, com a maior das seriedades, na economia política moderna por Bastiat, Carey, Proudhon, etc. claro que, para Proudhon, entre outros, se torna bastante cômodo explicar a origem de uma relação econômica cuja gênese histórica desconhece em termos de filosofia da história; e, assim, recorre aos mitos: essa relação foi uma idéia súbita e acabada que ocorreu a Adão ou Prometeu, os quais, em seguida a introduziram, etc. Não há nada mais enfadonho e árido do que o locus communus em dei irio.»

in Introdução à Contribuição para a Crítica da Economia Política, de Karl Marx, 1859
posted by Mikasmokas @ 7/23/2006   0 comments
segunda-feira, julho 17, 2006
PATRICIA BARBER 12 Novembro 06

Aqui fica o postal que estamos a fazer agora de um dos nossos próximos concertos (ten uns pequenos erros que entretanto já foram corrigidos mas eu é que ainda n tenho o jpeg :p)
posted by Mikasmokas @ 7/17/2006   0 comments
Finalmente encontrei: um texto bem fundamentado sobre a poligamia e monogamia
Como o texto é muito longo vou colocar aqui excertos e deixo depois no fim o link:


COMPORTAMENTO SEXUAL: DADOS DA PSICOBIOLOGIA


I. Na grande maioria das espécies animais (no qual se inclui a espécie humana) ocorre uma diferença de investimento parental entre os sexos, normalmente com maior investimento por parte da fêmea. Tal facto levará, segundo a teoria de Robert Trivers, à adopção de diferentes estratégias de acasalamento.

II. O sexo que mais invista terá vantagem ao escolher o parceiro de modo criterioso, de forma a assegurar a qualidade genética da sua descendência. Tenderá assim a seguir uma estratégia monogâmica. O sexo que menos invista terá vantagem em aproveitar todas as oportunidades de cópula que lhe surjam, pelo que adoptará uma estratégia poligâmica.
Ocorrência de poliandria em aves (jacanas e falaropos)
Existência de infidelidade e de grupos promíscuos de fêmeas
A não existência de critérios de selectividade por parte das fêmeas de algumas espécies

III. A monogamia masculina só ocorrerá em situações em que a vantagem em termos de descendência seja maior do que a conseguida ao seguir estratégias poligâmicas. Tal é o caso das aves que, devido à necessidade constante de protecção primeiro do ovo e depois da cria, são forçadas a partilhar tarefas.
Há espécies de primatas, como o gibão, em que a fêmea é sempre suficiente no cuidado à
cria e, contudo, subsiste a monogamia.

(...)


V. Relativamente à espécie humana, que corresponde à descrição de espécie poligâmica, as mulheres procurarão homens ricos e dominantes e os homens procurarão mulheres jovens e
bonitas.
A repressão social feminina e a procura de estatuto Há características consideradas mais importantes de igual modo pelos dois sexos, que se distanciam bastante destas.
Inversão de papéis em mulheres de poder.

VI. As diferentes estratégias sexuais condicionam o comportamento dos indivíduos. Os machos tenderão a ser mais agressivos e a procurar a competição com outros machos com eventual monopolização das fêmeas em haréns, são mais sensíveis ao estatuto e a questões de dominância.
Nem sempre há competição entre machos por oportunidade de acasalamento ocorrendo,
por vezes, rapto de fêmeas por alianças de machos. Também há competição entre fêmeas e hierarquias separadas por sexo

VII. Os homens são mais promíscuos, têm limiares de excitabilidade mais baixos e consentem mais rapidamente em relações sexuais do que as mulheres.
Influência de factores culturais ainda não devidamente estudados

VIII. As mulheres, apesar de adoptarem uma estratégia predominantemente monogâmica quando cometem infidelidades fazem-no com homens que sejam considerados geneticamente superiores aos actuais companheiros (mais atraentes e com mais poder económico) mas rocurando manter os companheiros que lhes asseguram cuidados parentais.


V. A nossa espécie, curiosamente, apresenta todas as formas de acasalamento, sendo,contudo, a poligamia a culturalmente mais frequente. Argumentos a favor da poligamia como aracterística da espécie humana são as diferenças de maturação sexual, a maior agressividade no macho,a noção universal de macho viril, as diferenças de excitabilidade (menor limiar de excitabilidade nos homens), os diferentes factores de atracção entre os sexos e as diferenças no ciúme (tal como encontrado nos estudos de David Buss).


Os homens amadurecem mais tarde do que as mulheres. Tal ocorreria porque, visto que têm de competir entre si por poder e pelas mulheres, os homens teriam vantagem em atingir um amanho suficiente para defrontar os seus rivais enquanto que as mulheres teriam vantagem em engravidar o mais cedo possível, para garantir um maior número de descendentes. Estudos ndicam ainda que os homens são mais sensíveis a questões de dominância do que as mulheres, logo desde a infância.

Os factores de atracção entre homens e mulheres também diferem, sendo que estas valorizam sobretudo o estatuto e a riqueza e os homens valorizam o aspecto físico e a juventude.


VII. Estas diferenças apesar de pareceram ter um fundo de verdade são muito influenciadas por factores culturais. Num estudo de David P. Schmitt, sobre diferenças no desejo sexual, verificou-se que em regiões como a Ásia Oriental e África, os homens, em média declaravam que só teriam sexo com uma mulher que conhecessem há, pelo menos, três meses ou um ano, respectivamente. Em comparação, para as mulheres americanas o intervalo era de um mês.
Não deixa de ser interessante ou de lamentar a falta de discussão e integração teórica dos
resultados obtidos nestes estudos que se parecem limitar mais a uma mera exposição de dados
estatísticos. Algumas provas da influência de factores sociais já têm sido mostradas por outros estudos como o Janus Report que, pela primeira vez, estabelece uma comparação entre hábitos
sexuais de homens, mulheres de carreira (que teriam não só diferentes concepções da vida mas
também maiores oportunidades de contacto sexual) e mulheres sem actividade profissional. Os
resultados são, sem dúvida, dignos de nota, com as mulheres de carreira a apresentaram padrões de resposta mais semelhantes aos dos homens em questões como a aceitação de sexo ocasional ou frequência de masturbação.


A ATRACÇÃO INTERPESSOAL
Ao conhecermos alguém é frequente, nos momentos iniciais de interacção, formarmos uma
primeira impressão dessa pessoa, impressão essa que é influenciada pelos seus comportamentos, pelo conhecimento de como essa pessoa é e pela sua aparência física. Tal ocorre porque temos a crença de que não só os comportamentos como a aparência (aspectos físicos e comunicação nãoverbal) reflectem características da personalidade, crenças e estilos de vida.

A importância da beleza
Uma relação pessoal forma-se frequentemente com o surgir de uma sensação inicial de afecto por outra pessoa. Um dos factores que mais contribui para que tal ocorra é a percepção de atractividade física.
(...)

A beleza física, ao contrário do esperado pela psicobiologia, não se restringe pois ao campo romântico-sexual, parecendo abarcar um leque mais vasto de relações sociais.
Poder-se-ia argumentar que a preferência por pessoas fisicamente atractivas se baseia meramente num prazer estético contemplativo mas a verdade é que existem estereótipos associados à beleza. Espera-se que as pessoas bonitas sejam calorosas, amistosas e socialmente confiantes. Num contexto de emprego, as pessoas bonitas são mais facilmente escolhidas em entrevistas de selecção por serem consideradas melhores profissionais. Os homens com uma face com esquema infantil são vistos como mais ingénuos, honestos e generosos do que outros com expressões mais maduras. São também considerados mais atractivos pela maioria das mulheres, em oposição à típica imagem de macho viril que seria de esperar pelas previsões biológicas.
(...)

A importância da interacção
As pessoas são atraídas por aqueles com quem conseguem estabelecer interacções positivas: as pessoas com quem trabalham, com quem partilham os mesmos gostos, atitudes, valores ou histórias de vida. Até as pessoas que interagem mais frequente por mero acaso tendem a gostar mais umas das outras. Um estudo de Festinger, Shachter & Back (1950) realizado numa residência para casais de estudantes mostrou que as amizades tendiam-se a formar entre aqueles que viviam mais perto uns dos outros. Os casais mais populares eram os que viviam nos
apartamentos mais próximos das escadas ou da zona das caixas de correio, onde tinham mais
oportunidade para interagir com os outros casais.
Existem três razões pelas quais gostamos daqueles com quem interagimos. Por um lado, a interacção com os outros permite a percepção de controlo em relação ao mundo, seja através da
partilha de preocupações pessoais com um amigo íntimo (o que contribui para uma melhor compreensão e modo de lidar com o problema) quer quando estamos inseguros de determinadas opiniões ou crenças. Neste caso, procuramos os outros para testar a sua validade. Quando a interacção é recompensadora o resultado é sempre o mesmo: gostamos dessa pessoa. Outra das
razões são os sentimentos de pertença e aceitação que derivam de uma interacção calorosa. Como consequência tendemos a ligar-nos a alguém com quem nos sentimos relacionados. Por fim, outra razão tem a ver com um mero efeito de exposição. Mesmo na ausência de uma interacção real, a familiaridade pode resultar numa sensação de afecto.


A importância da semelhança
A semelhança conduz à atracção também por três razões. Em primeiro lugar, porque tendemos a interagir com quem nos é semelhante: mesma idade, religião, classe social ou interesses. A semelhança torna a interacção mais provável mas também mais positiva visto que as pessoas já têm à partida algo em comum. Em segundo lugar, porque partimos do princípio que os nossos semelhantes vão gostar de nós. Por fim, porque os nossos semelhantes validam as nossas crenças e atitudes. Tendemos a gostar imediatamente das pessoas que partilham opiniões connosco, o que ocorre porque vemos as nossas características como desejáveis, como sendo as mais “correctas”.


O Amor
Algumas relações envolvem sentimentos de paixão (amor passional). Estas emoções podem surgir rapidamente e estão intimamente relacionadas com o desejo sexual.
A paixão constitui um caso especial entre os diversos tipos de atracção interpessoal: a sua intensidade distingue-a facilmente da amizade e de outras formas intermédias de atracção; o seu carácter efémero e vulnerável contrasta com a estabilidade e durabilidade das experiências de
vinculação infantil ou com a aparente continuidade do amor conjugal; a idealização do ser amado parece exclui-la do campo do deve e haver das troca sociais e afectivas.
Segundo a teoria triangular de Sternberg que considera a existência de três componentes no amor (intimidade, compromisso e confiança) podem existir diversos tipos de amor consoante a presença/ ausência entre estes três componentes. A intimidade relaciona-se com os sentimentos e proximidade, de vinculação ao outro (componente predominantemente emocional); a paixão com os impulsos relacionados com o romance, a atracção física e a sexualidade (componente
essencialmente motivacional) e o compromisso com a decisão a curto prazo de que amamos o outro e a longo prazo, com a aceitação do compromisso de continuar a relação (componente cognitivo). É da combinação destes três componentes que resulta a classificação dos diferentes modelos de amor/atracção interpessoal. São eles: a inexistência de amor, o gostar, o amor à
primeira vista, o amor vazio, o amor romântico, o amor conjugal, o amor irreflectido e o amor consumado.

Sexualidade
Várias investigações têm demonstrado que a intimidade sexual está relacionada com uma maior satisfação a nível da relação amorosa. A satisfação sexual encontra-se fortemente relacionada com a satisfação conjugal: os casais satisfeitos praticam sexo mais frequentemente.
Contudo, isto não se reduz à actividade sexual visto que os casais satisfeitos realizam mais actividades em conjunto (desde o desporto à participação em actividades sociais) do que os insatisfeitos. As razões para a insatisfação sexual tendem a diferir entre os sexos. As mulheres insatisfeitas referem a falta de calor, amor e afecto nas suas relações sexuais enquanto que os
homens referem a falta de actividade sexual mais variada e frequente.
(...)


Diferenças de personalidade na vivência da sexualidade
As atitudes das pessoas em relação ao amor e ao sexo são extremamente diversas, variando de acordo com questões culturais e com questões de personalidade. Em muitas sociedades, o amor é visto como algo indesejável sendo que a decisão de casamento deve ser feita apenas com base em critérios económicos. Por sua vez, na sociedade ocidental considera-se que o amor é a base do casamento. Possivelmente por esta razão, é mais frequente que indivíduos americanos relatem experiências de paixão romântica do que os japoneses ou os russos (Sprecher et al., 994)

(...)


As atitudes perante o sexo também diferem. Algumas pessoas seguem uma orientação sócio-sexual restrita, ou seja, procuram sentimentos de intimidade e compromisso relacional antes de iniciarem a actividade sexual enquanto que outras têm uma orientação sócio-sexual não restrita,
ou sejam, vêem o sexo como uma actividade de prazer sem necessidade de compromisso. Estes indivíduos têm atitudes mais permissivas em relação ao sexo e, consequentemente, relatam maior número de relações sexuais ocasionais, maior número de parceiros e desejo de uma maior
variedade sexual.
É também importante o tipo de relação desejada pela pessoa: uma relação a curto ou a longo prazo. Para uma relação a curto prazo tanto homens como mulheres consideram como factor mais importante a beleza. Numa relação a longo prazo, os homens são tão selectivos quanto as mulheres, o que é contraditório relativamente à teoria do investimento parental de Trivers.

in http://sattagis1.dza.fc.ul.pt/~amaral/mais/Palma.pdf
posted by Mikasmokas @ 7/17/2006   1 comments
sexta-feira, julho 14, 2006
Pela reflexão do Ser na ausência do Eu
(ui.. que inspirado que eu estou nos títulos LOL)

Excertos retirados de "A relação entre pessoa e sociedade: um olhar a partir do tempo" de Emília Rodrigues Araújo(2005):

«A designação “pessoa” remete, inegavelmente, para a problemática da identidade levando-nos, no limite, à procura da essência e da diferença do ser humano social capaz de representação e de plasticidade, ao interagir com o mundo que o rodeia.
Em traços gerais, e agora remetendo-me à Sociologia, pode considerar-se a pessoa como o último reduto do privado, da individualidade, da diferença, sendo também o último refúgio da autonomia e da Liberdade, em sentido pleno. A Sociedade, por seu turno, é remetida ao poder, ao domínio, ao controlo e à normalização. Ela representa o peso de todos os outros e sinaliza, no limite, a supremacia sobre o indivíduo, podendo aniquilarlhe a autonomia, reduzir-lhe a liberdade e fazer de si um agente, cujas opções são condicionadas pelos grupos, instituições e normas.»


«Considera-se que a identidade e, portanto, a possibilidade da realização da pessoa, é o resultado de relações complexas definidas entre o indivíduo e a sociedade.»

«A possibilidade de ser pessoa e de assumir a especificidade identitária passaactualmente, não apenas pela obtenção de tempo cuja ocupação depende do conjunto derelações estabelecidas com outros, mas da oportunidade de os indivíduos disporem detempo para si, não estritamente planeado. Trata-se de um tempo dedicado àcontemplação, à catarse do quotidiano e que está na posse do individuo.»

«A sociedade ocidental possui uma representação de tempo de tipo linear e a formacomo hoje pensamos, ocupamos e prevemos os nossos comportamentos e as nossasacções no tempo continuam muito dependentes do processo “civilizacional” (Elias,1995) pelo qual o Homem se desligou das marcações temporais de tipo natural e construiu outro tipo de referências adaptadas e justificadas no contexto daracionalização económica que se acentua a partir dos inícios do século XVIII. Alinguagem de que dispomos, as imagens e as representações que temos de tempo estãoaltamente correlacionados com o domínio social do tempo económico passível dedecompor, quantificar e medir.»

«A tecnologia e a Internet, por exemplo, permitem multiplicar estas possibilidades de um Eu fragmentado porque eliminam a necessidade do confronto individual, do reconhecimento pessoal, reduzindo a acção de controlo. Todavia, a mesma tecnologia também permitirá potenciar a realização da pessoa, ultrapassando o poder de os objectos identificativos atribuírem identidade. Ao contrário das sociedades menos marcadas pelo uso de tecnologia e outros meios de comunicação, que permitem subsumir o espaço e reduzir drasticamente o tempo, as colectividades modernas favorecem a possibilidade de os indivíduos se assumirem a si próprios perante os outros, não mostrando todos os seus sinais corporais identificatórios. É assim no mundo das comunicações electrónicas em que a escrita, arcando com um papel preponderante, permite ao indivíduo revelar muito mais de si e mais livremente. É assim no mundo das comunidades on-line. De
todo o modo, será uma possibilidade de realização pessoal mutilada porque o espaço que aí se julga público acaba por ser um espaço vivido em privado sendo, de igual modo, um espaço utópico onde todos podem não ser o que aparentam ser.

Esta relação entre pessoa, tempo, espaço e tecnologia leva-nos a uma vasta teorização sobre os processos de interacção nas sociedades modernas, sobretudo por via da confusão entre o real e o virtual, entre a realidade e a ilusão, assim como sobre o papel da tecnologia na efectiva transformação dos modos de conhecer o mundo pelo qual a pessoa se define, não só a partir da extensão que a tecnologia representa para si mas também na sua capacidade de apreender e de usar aquela.»

«A primeira grande relação entre pessoa e tempo é feita através do tempo biográfico e da memória a este associada.»

«Considerando o modelo temporal ocidental como referencial, podemos afirmar que a segunda grande ligação está ainda ano tempo biográfico mas prende-se com a capacidade de programar e de projectar. Esta relaciona-se com a existência de futuro, bem como com a real possibilidade, largamente condicionada pela sociedade, de os indivíduos terem futuro, sonharem como o tempo a frente e preverem projectos de
forma antecipada.»

«A relação entre pessoa e tempo desemboca ainda na conexão entre tempo natural e
tempo social e no modo como o primeiro se desequilibra. »

«A nossa existência desenha-se no seio de espaços e de tempos em que interagimos com os outros, através de horários e de determinadas marcações do tempo, como a semana, o mês, o ano, entre outras. No entanto, em determinados momentos ou fases da nossa vida, sujeitamo-nos a um controlo apertado do tempo, ou porque o desejamos ocupado com actividades de tipo produtivo, ou porque precisamos de serviços que apenas
acontecem em determinados períodos de tempo circunscritos que nos obrigam a regular os nossos ritmos mediante os ritmos impostos por esses outros agentes e instituições.
A sociedade pós-capitalista é uma sociedade que ainda assenta muito sobre a institucionalização temporal, não obstante o facto de se abrir cada vez mais o leque de escolhas no que respeita aos tempos de trabalho. E, à semelhança do que dizia Michel Foucault (1987), utilizando a designação de “arquipélago carceral” para classificar a sociedade normalizada, também podemos afirmar que hoje grande parte do nosso tempo
de vida é regulada pelas instituições e pelas suas temporalidades. »

«Uma posição considerada bastante radical actualmente configurada no seio das teorias designadas “pós modernas” é a de que a identidade não existe enquanto um conjunto fixo de disposições responsável pelas respostas dos indivíduos no mundo concreto. Esta tese sustém a ideia de que a identidade é um todo fluído que se “vai fazendo” em articulação com a diversidade e a heterogeneidade propostas e solicitadas
pela complexidade do meio, dos contextos, dos ambientes. Para tal, retomam-se extensivamente (e, por vezes, de forma errada) as interpretações de Georg Simmel segundo o qual os seres humanos (nós) não são mais do que fragmentos de si próprios (19107/1911). Esta visão, acentuando a fluidez, tanto na construção, como na manifestação das identidades (do ser que existe aí, no sentido de Heidegger, 1989),
premeia a variabilidade, a sinuosidade das respostas dos indivíduos (da gestão das fronteiras), ao mesmo tempo que contempla a capacidade de autonomia. No plano teórico, a sustentação desta tese radica na tomada em consideração do terreno movediço das contradições típicas das transformações sociais, da erosão de limites e de padrões de comportamentos que possam ser tomados como adquiridos.»
posted by Mikasmokas @ 7/14/2006   5 comments
Novamente a questão da monogamia cristã
Cavaco apela à estabilidade da família tradicional, Diário Económico de 14-07-2006

Presidente encerrou segunda jornada do roteiro contra exclusão com elogio à igreija. A necessidade de valorizar a família tradicional marcou o segundo dia do roteiro presidencial. Os divórcios e a maternidade precoce estiveram na mira do PR.

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Quando frequentemente falo na monogamia cristã enquanto cultura dominante nas sociedades ocidentais e em especial a portuguesa é contra posições como estas que vêm expressas pelo Ex.mo Sr. Presidente (de alguns portugueses).
Os factos sociais estão aí e muito já estudados. Os países do sul da Europa mais conservadores nas relações sexuais e afectivas são tutelados por aparelhos ideológicos cristãos (interpretação à la Althusser). Claro que a base patrominial da relação monogamica enquanto relação contratual e de opressão masculina sobre a mulher está presente, mas essa poucos falam (a única vez que ouvi falarem publicamente disto foi a Helena Roseta num debate na Sic Notícias). A essencia dessas relação mantêm-se, para isso basta olhar para o caduco e secular Código Civil Português. Mas continuemos. Os países do sul da Europa, dado esse controlo cultural, social, moral e ideológico da familia monogâmica como base social da Igreija Católica e consequentemente de uma sociedade de inspiração cristã apresenta baixas taxas de divorcio, sendo as portuguesa, em termos comparativos, bastante baixas. Basta pensar que a revisão do Código Civil na área do Direito da Familia apenas se fez em 76 aquanto da revisão da concordata, pelo que, mesmo naquela altura, fico muito aquém do que se esperava. Portanto, vivemos numa sociedade onde as taxas relativas de divorcio são mais baixas que nos países do norte da Europa, onde a legislação é muito mais flexivel e os costumes mais liberais. As taxas de separação são mais elevadas no norte da Europa, sendo que as ligações familiares de cariz mais informal também muito mais generalizadas. Pergunta: os países do norte da Europa apresentam índices elevados de felicidade (pelo menos as tentativas para a medir enquanto povo), enquanto que os do sul da Europa, em especial os do Mediterrâneo, muito mais baixos. Em Portugal assistimos frequentemente nas relações monogâmicas a traições, relações conflituais derivado ao sentimento de posse presente nos sentimentos (a que não é alheio a base patrimonial do aparcimento da monogamia moderna nos séc. XVII e XVIII), a relações de aparência, à manutenção de forma mais ou menos explicita do machismo na relação, reprimindo as mulheres, nas próprias separações o facto de existirem esmagadoras percentagens de mulheres que ficam com os filhos é sintomático da falta de liberdade das mulheres, etc etc.

Caminhos: continuo a defender que as relações monogâmicas de inspiração cristã no mundo ocidental estão em declínio paulatino, é uma das maiores revoluções silenciosas que estão a acontecer. No entanto, é um fenómeno de mudança que leva gerações. A minha geração ainda esta marcada pela dos nossos pais que viveram sobre uma forte cultura de monogamia cristã na sociedade do Estado Novo. E isso ainda vai passar para os nossos filhos. No entanto, a cultural urbana e liberal, até pela concentração das populações, ganha cada vez mais terreno e é avessa ao controlo social e moral mais rigido. A própria Igreija Católica perde a sua influência nessa matéria, onde confessar os pecados do comportamento deixa de ser tutelado por ela. Foulcault explica isso muito bem.
Defendo assim, uma sociedade onde a cultura dominante seja a de tolerancia pela livre escolha de formação familiar (monogamia ou poligamia/poligenia) e de opção sexual (hetero, homo, bisexual e afins). Em França onde os árabes já representam 10% da população praticam de forma dominante a poligamia e no entanto ela é proibida em França. A própria globalização da mobilidade dos povos é avesso à manutenção de um modelo único e dominante de relacionamento sexual e afectivo entre os diferentes cidadãos. Se no passado no Mundo Ocidental já tivemos outras culturas dominantes, como por exemplo a da poligamia, hoje o caminho terá de ser pela liberdade e tolerancia pelos desejos sexuais e afectos do indeviduo em deterimento do interesse económico que a relação monogamica tem para a sociedade (e em especial a questão da propriedade). Libertar os sentimentos das grilhas da propriedade é preciso!
posted by Mikasmokas @ 7/14/2006   0 comments
A gata que era a Mimi mas afinal não é....

Há 2 dias fui atrás de uma gata em Alchete, numa escola básica, pois telefonaram-me a dizer que havia lá uma gata muito parecida com a Mimi. De facto fui lá, parecia-me a Mimi e até se deixou apanhar. Estava mais gorda. Tudo bem, podia ser normal. Levei-a para casa, dei-lhe banho e desparasitei-a.
Mais tarde fui mesmo comparar as fotografias com a gata e infelizmente NÃO É a Mimi... :(
Como não tenho coragem para a saltar novamente, até porque ela é muito meiguinha e calma tenho-a aqui. O pior é que levei-a ao vet (60 € :( ) e fizemos o teste da FIV (SIDA felina) e deu positivo , pelo que nem em contacto pode estar com os meus outros gatos. Tenho que lhe arranjar um dono ou um gatil. Um dono seria o ideal. Alguém interessado?!
posted by Mikasmokas @ 7/14/2006   1 comments
quinta-feira, julho 06, 2006
A solidão
O José Machado Pais vai editar em breve um livro sobre a solidão. Recordo aqui a passagem de um paper da Elsa Teixeira em 2001 sobre esta temática, «SOLIDÃO, A BUSCA DO OUTRO NA ERA DO EU»:
« A análise do fe nó me no da so li dão na modernidade tardia em termos de desencontros impli ca ter em con si de ra ção o ritmo alu ci nan te das trans formações e o aproveitamento das opor tu ni da des que têm surgido.
Desta forma, assiste-se hoje a desencontros entre as expectativas cri a das pelas novas possibilidades tecnológicas e a crescente mobilidade, por um lado, e o limita do aproveitamento efec ti vo de todo o potencial oferecido. A questão da mobilida de e das inú me ras pos si bi li da des co lo ca-se, a grande maioria das vezes, nos termos “para onde ir?” e “com quem?”. Des ta for ma, como re fe re Zel din (1994: 145):
“o presente século, ao proclamar o advento de uma nova era de comunicação e informação, ao inventar máquinas gravadoras capazes de concederem imortalidade à fala, esqueceu-se de lidar com o seu maior problema, que é encontrar quem que ira escutar”.
Por outro lado, assiste-se também a desencontros ao nível das relações entre os géneros: o ho mem tende a mostrar-se re tardatário, confuso e reticente às mudanças e a mulher apresenta cada vez mais uma trajectória de vida ba se a da na autonomia e, nes sa sua eman ci pa ção, tem cri a do um novo modelo de vida privada, democrati zan do as relações entre os sexos, modelo esse que se tornou um poderoso motor de mudança social.
Todas estas transformações têm como consequência um desfasamento entre o que se procura e o que efectivamente se possui ao nível das relações amorosas, causando no indivíduo sentimentos de dúvida e incerteza, presentes no tipo de relação pura, baseada na autenticidade, no respei to pela identida de e independência do outro. Assis te-se, des ta for ma, a uma “re com posição dos laços afectivos à volta de um indivíduo dono do seu estudo” (Ka uf mann, 1999: 164), atra vés do que Bourdieu apelidade “reconhecimento mútuo” que transporta “para além da alternativa do egoísmo e do altruísmo e até mesmo da distinção do sujeito e do objecto, até ao
estado de fusão e de comunhão, muitas ve zes evocado em metáforas próxi mas das da mística, em que dois seres podem ‘perder-se um no outro’ sem se perderem” (Bour di eu, 1999: 95).»
posted by Mikasmokas @ 7/06/2006   2 comments
terça-feira, julho 04, 2006
Música e pós-modernismo
Como tinha dito iria colocar aqui algumas questões que me vão aparecendo relativamente à tese de mestrado que estou a elaborar.
A questão que coloco e que com quem já troquei algumas ideias não é pacificia. A começar pela própria concepção de pós-modernismo mas cuja polémica académica e ideológica queria fugir. Queria-me central mais nas mudanças verificadas nos últimos 30 anos neste sector. Se do lado do consumo assistimos a facto a uma mudança significativa nas práticas e estrutura de gostos, onde o ecletismo é a regra, a verdade é que na estrutura organizativa das editoras, rádio e televisões pouco mudou. Uma das características pós-modernas das organizações é a mudança do modelo fordista para uma estrutura mais flexivel e que melhor responde ao meio envolvente em profunda mudança. Ora bem, isto é o que nos ensinam nas escolas de Gestão (e não fosse eu licenciado em Gestão para saber esta lenga lenga toda). No entanto, a prática, mesmo empiricamente comprovada, tem-nos mostrado muita rigidez e onde a concentração capitalista na área da música e dos media em geral pouco mais tem feito do que criar sinergias entre negócios do mesmo grupo.
No campo da produção há também mudanças, especialmente via a questão tecnológica, que sempre esteve a ela ligada.
Pergunta: que pós-modernismo em termos de organização podemos falar? se calhar não o poderemos fazer....
posted by Mikasmokas @ 7/04/2006   0 comments
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