sexta-feira, julho 14, 2006 |
Novamente a questão da monogamia cristã |
Cavaco apela à estabilidade da família tradicional, Diário Económico de 14-07-2006
Presidente encerrou segunda jornada do roteiro contra exclusão com elogio à igreija. A necessidade de valorizar a família tradicional marcou o segundo dia do roteiro presidencial. Os divórcios e a maternidade precoce estiveram na mira do PR.
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Quando frequentemente falo na monogamia cristã enquanto cultura dominante nas sociedades ocidentais e em especial a portuguesa é contra posições como estas que vêm expressas pelo Ex.mo Sr. Presidente (de alguns portugueses). Os factos sociais estão aí e muito já estudados. Os países do sul da Europa mais conservadores nas relações sexuais e afectivas são tutelados por aparelhos ideológicos cristãos (interpretação à la Althusser). Claro que a base patrominial da relação monogamica enquanto relação contratual e de opressão masculina sobre a mulher está presente, mas essa poucos falam (a única vez que ouvi falarem publicamente disto foi a Helena Roseta num debate na Sic Notícias). A essencia dessas relação mantêm-se, para isso basta olhar para o caduco e secular Código Civil Português. Mas continuemos. Os países do sul da Europa, dado esse controlo cultural, social, moral e ideológico da familia monogâmica como base social da Igreija Católica e consequentemente de uma sociedade de inspiração cristã apresenta baixas taxas de divorcio, sendo as portuguesa, em termos comparativos, bastante baixas. Basta pensar que a revisão do Código Civil na área do Direito da Familia apenas se fez em 76 aquanto da revisão da concordata, pelo que, mesmo naquela altura, fico muito aquém do que se esperava. Portanto, vivemos numa sociedade onde as taxas relativas de divorcio são mais baixas que nos países do norte da Europa, onde a legislação é muito mais flexivel e os costumes mais liberais. As taxas de separação são mais elevadas no norte da Europa, sendo que as ligações familiares de cariz mais informal também muito mais generalizadas. Pergunta: os países do norte da Europa apresentam índices elevados de felicidade (pelo menos as tentativas para a medir enquanto povo), enquanto que os do sul da Europa, em especial os do Mediterrâneo, muito mais baixos. Em Portugal assistimos frequentemente nas relações monogâmicas a traições, relações conflituais derivado ao sentimento de posse presente nos sentimentos (a que não é alheio a base patrimonial do aparcimento da monogamia moderna nos séc. XVII e XVIII), a relações de aparência, à manutenção de forma mais ou menos explicita do machismo na relação, reprimindo as mulheres, nas próprias separações o facto de existirem esmagadoras percentagens de mulheres que ficam com os filhos é sintomático da falta de liberdade das mulheres, etc etc.
Caminhos: continuo a defender que as relações monogâmicas de inspiração cristã no mundo ocidental estão em declínio paulatino, é uma das maiores revoluções silenciosas que estão a acontecer. No entanto, é um fenómeno de mudança que leva gerações. A minha geração ainda esta marcada pela dos nossos pais que viveram sobre uma forte cultura de monogamia cristã na sociedade do Estado Novo. E isso ainda vai passar para os nossos filhos. No entanto, a cultural urbana e liberal, até pela concentração das populações, ganha cada vez mais terreno e é avessa ao controlo social e moral mais rigido. A própria Igreija Católica perde a sua influência nessa matéria, onde confessar os pecados do comportamento deixa de ser tutelado por ela. Foulcault explica isso muito bem. Defendo assim, uma sociedade onde a cultura dominante seja a de tolerancia pela livre escolha de formação familiar (monogamia ou poligamia/poligenia) e de opção sexual (hetero, homo, bisexual e afins). Em França onde os árabes já representam 10% da população praticam de forma dominante a poligamia e no entanto ela é proibida em França. A própria globalização da mobilidade dos povos é avesso à manutenção de um modelo único e dominante de relacionamento sexual e afectivo entre os diferentes cidadãos. Se no passado no Mundo Ocidental já tivemos outras culturas dominantes, como por exemplo a da poligamia, hoje o caminho terá de ser pela liberdade e tolerancia pelos desejos sexuais e afectos do indeviduo em deterimento do interesse económico que a relação monogamica tem para a sociedade (e em especial a questão da propriedade). Libertar os sentimentos das grilhas da propriedade é preciso! |
posted by Mikasmokas @ 7/14/2006 |
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