Reflexões de um Caracol à Beira da Estrada
Será a experiência estética a experiência do mundo.... o devir é um devir estético... ou será que devo atravessar a estrada?
domingo, julho 25, 2010
A vida....

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posted by Mikasmokas @ 7/25/2010   0 comments
sexta-feira, fevereiro 05, 2010
Não deixo de ter saudades...
da nossa cumplicidade que partilhávamos nas pequenas coisas... quero que volte, porque nunca é tarde para nos encontrarmos

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segunda-feira, outubro 26, 2009
Marge Simpson na capa da Playboy americana

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posted by Mikasmokas @ 10/26/2009   0 comments
segunda-feira, outubro 12, 2009
Os resultados eleitorais de ontem...

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quinta-feira, setembro 24, 2009
E se... LOL

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terça-feira, setembro 08, 2009
O Sexo e as Emoções Primárias

O Sexo e as Emoções Primárias


No dia-a-dia somos condicionados por inúmeros factores externos. Alheias ao espírito, as nossas atitudes variam consoante o meio à nossa volta e a nossa saúde emocional.
O facto de termos determinadas reacções, sensações ou estados de espírito não é uma questão meramente casual. Acima de tudo, existe uma forte influência daquilo que nos rodeia e da força que esses factores exercem em nós. Reprimir determinados impulsos não vai auxiliar em nada a nossa personalidade e nem a própria saúde sexual.
Ao longo dos tempos, os povos foram educados para viver consoante a filosofia de vida que lhes era impregnada. Das culturas mais transcendentais às mais realistas, o certo é que 
aos humanos não lhe era dado o direito de soltarem as suas emoções primárias, como a alegria, o medo, a ira ou a pena, que eram guardadas secretamente.

Na verdade, trata-se aqui de reprimir os próprios impulsos e desejos humanos, facto que se tem verificado desde sempre. Recordemos o seguinte: o sentimento mais nobre, como o amor, sempre foi elevado ao máximo, enquanto que o sexo, encarado por alguns psicólogos com uma necessidade primária, era
reprimido e totalmente condenável.
Este era o cenário vivido há alguns séculos atrás, mas com o passar do tempo chegou-se à conclusão que as emoções primárias, tal como outras componentes, são predominantes para a formação da personalidade e desenvolvimento da mesma. Assim, as emoções primárias nada têm a ver com o espiritual, mas sim com os factores que nos rodeiam e com a própria fisiologia hormonal.
As emoções são o fio condutor das nossas acções e gestos, e resultam da conjugação de diferentes géneros de hormonas. Inevitavelmente associadas ao sexo, as emoções primárias são o resultado de um momento ou de uma determinada fase que envolveu um objectivo sexual. Se o mesmo é conseguido surge a alegria, mas caso não se concretize surge a pena. Mesmo que alcance o seu objectivo, mas o mesmo não siga as coordenadas que inicialmente pensou, solta-se imediatamente a ira. O medo, por sua vez, pode surgir após qualquer uma destas experiências, evidenciando uma forma de defesa e salvaguarda.
O sexo e as emoções primárias estão intimamente relacionados. Se não conseguir estabelecer um uso correcto dos mesmos, certamente a personalidade e desenvolvimento sexual não serão os mais saudáveis. Pelo facto da nossa sociedade ter na sua essência uma educação sexual muito puritana e pouco aberta, faz com que as emoções primárias da maioria das pessoas não sejam devidamente desenvolvidas. Este desajuste entre emoções e sexo faz com que não haja um equilíbrio, o que origina um descarrilamento da personalidade da pessoa.
Saiba por isso que as emoções estão relacionadas com a própria saúde sexual. Reprimir emoções, sensações e desejos não causará qualquer positivismo na sua vida. O importante é que a criança, logo desde muito nova, aprenda a soltar os seus impulsos e reacções de maneira a conseguir evoluir na sua personalidade. Pensar o sexo como algo natural e não como uma coisa negativa, ajudará na construção e definição da personalidade de muitos jovens portugueses.
Portanto, saiba que o sexo anda sempre lado a lado com as nossas emoções primárias, e que o bom funcionamento de ambas origina o equilíbrio da nossa personalidade e saúde mental. Reprimir a ira, o medo, a pena ou a alegria acabará por torná-la quase num robôt em que as emoções não são sentidas, mas sim acumuladas, até começarem a surgir outro tipo de emoções, estas já doentias. Acautele-se e eduque os seus impulsos e emoções, para uma melhor conduta diária da sua vida.

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posted by Mikasmokas @ 9/08/2009   0 comments
segunda-feira, agosto 24, 2009
As Ligações Familiares
9. As Ligações Familiares
9.1. A família como elemento social
Em todas as sociedades, a família e os laços que daí advém, são elementos fundamentais de agrupamento e diferenciação social. Apesar da discrepância destes elementos de sociedade para sociedade, é possível descortinar algumas constantes, que têm de ver-se como elementos centrais de todos os arranjos relativos à constituição da família.
            Assim, as funções sociais da família são:
1.   Procriação: a procriação, devido à fragilidade das mulheres grávidas, crianças e jovens, requer efectivamente arranjos duradouros para a geração de novos seres e para a sua protecção e instrução nos valores e experiência colectivas até estarem em condições de auto subsistência. É necessária para garantir a sobrevivência da sociedade, pois é uma “renovação das gerações”.
2.   Transmissão da herança social: esta é uma herança cultural (tradições de um povo, como a língua) e material (bens materiais, como um quadro).
3.   Atribuição da qualidade de membro do grupo e da posição social: necessidade de fixar os termos em que o indivíduo, pode ser considerado membro da sociedade e as condições em que pode ser reconhecido como membro de uma dada família e gozar do estatuto social que daí resulta:
·       Laços de Parentesco: relação biológica resultante da procriação.
·       Laços de afinidade por aliança: relação social derivada do casamento.  
            A família constitui-se pelo casamento, e forma-se uma família de procriação. A família onde nós nascemos é a família de orientação. Todo este conjunto é o que se designa por família extensa.
            Seguindo a análise de Murdock, a família é constituída por pessoas que vivem juntas, que colaboram mutuamente, e onde há, pelo menos duas pessoas adultas de sexo oposto e os filhos deste casal.

C.C. Harris diz que convém distinguir Família Nuclear de Família Elementar.

à Família Nuclear: família constituída por efeito de procriação e é composta pelo casal e pelos seus filhos.
à Família Elementar: reporta-se à unidade solidária formada pelos membros de uma família nuclear.

Família Elementar:

Trata-se pois, das mesmas pessoas, procurando-se com duas designações diferentes traduzir dois grandes conjuntos de relações que entre elas se estabelecem
De facto, a família nuclear extingue-se por ter cessado a função de procriação ou por ter falecido um dos cônjuges. No entanto, os laços que unem os cônjuges tendem a manter-se para além do fim do período de fecundidade da mulher, como se mantém os laços que unem entre si os siblings e estes com os pais, ou com o cônjuge sobrevivo em caso de viuvez.
Deixa de ser uma família nuclear, convindo-lhe melhor a designação de família elementar. Assim sendo, «os membros de um dado grupo biológico começam como membro de uma família nuclear, tornam-se membros de uma família que é simultaneamente nuclear e elementar e acabam como membros de uma família elementar».
C.C.HARRIS sustenta que há que diferenciar estes diversos elementos e individualizar adequadamente os grupos a que eles podem conduzir. Família nuclear: Grupo constituído para fins de procriação. A vida em comum, requerida para uma satisfatória realização dos fins do grupo biológico, suscita a constituição de vários grupos. A saber:

1.Grupo Doméstico: fornecer abrigo e subsistência para as pessoas que vivem em comum. Fazem parte do mesmo os, que vivendo no mesmo lar, partilham por direito próprio do comer e de habitação e outros bens domésticos. Estes são simultaneamente

2.Grupo Económico: na medida em que consomem certos tipos de bens. Contudo, podem também para além de uma actividade consumidora ter uma actividade produtora.

3. Grupo de Trabalho: Realização em comum de operações produtivas.

4. Grupo proprietário: Ter em comum direitos de propriedade sobre certos bens, em que não trabalham directamente como grupo económico. Proprietários, sem que haja execução em comum do trabalho.

Quando, como acontece com frequência, pais e filhos trabalham na mesma terra ou na mesma oficina ou, ainda, no mesmo estabelecimento comercial, que é propriedade do chefe da família, ou deste  e da sua mulher, o GE assim formado é um GT. Quando vários membros de uma família são proprietários de uma mesma terra, ou oficina, ou estabelecimento comercial, ou empresa de qualquer tipo sem que haja execução em comum do trabalho, o GE formado na base familiar é um GP.
A verdade é que, ao nível da família conjugal e da família elementar o GD e o GE tendem a ser coincidentes. De modo que pode razoavelmente sustentar-se que a procriação em termos socialmente aprovados envolve a coabitação e a cooperação económica. E que, por isso, estes diferentes elementos são atributos da noção de família.
A família nuclear é com frequência submersa no GD, mais vasto, devido à protecção que filhos e mulheres acarreta. Os membros de um GD não são necessariamente apenas os mesmos do grupo biológico.
9.2. O casamento

 

A) Elementos do casamento

1.   Definição de direitos sobre os cônjuges e os seus bens: quando as pessoas casam adquirem direitos sobre o seu cônjuge e os seus bens. São direitos de solidariedade, de apoio recíproco dentro da família.
2.   Definição de direitos de acesso sexual: um casamento implica relações sexuais, quem casa tem o dever de praticar relações sexuais com o seu cônjuge.
3.   Definição de direitos sobre as crianças nascidas dos cônjuges: as crianças nascidas numa família pertencem à família de cada um dos cônjuges. Embora tal não se verifique em todas as sociedades.
4.   Legitimação das crianças como membro de uma família e da sociedade e a atribuição do direito a herdar os bens da família e a sua posição social.
            Os pais procuram sempre influenciar as decisões dos filhos (namoro), isto nas sociedades ocidentais. Pois, nas sociedades orientais, os pais arranjam uma noiva ao filho, quando este atinge a idade de casar.
O casamento envolve muitas vezes a transferência de bens significativos que, em regra geral desempenham um papel importante na consolidação dos laços entre os cônjuges e as respectivas famílias.
            Existem três tipos de prestações que acompanham o casamento:
à Aqueles em que há prestação de bens ou serviços à família da noiva (pagamento de um dote à família da mulher): esta é uma situação muito frequente em África. Numa situação de separação, a família da mulher tem de devolver o dote, mas se ela deixar ficar os filhos só tem de pagar parte do dote. Contudo, não tem direito aos filhos enquanto o dote não for pago.
à Aqueles em que a Família da noiva constitui um dote, ou são feitos outros arranjos destinados a beneficiar o noivo ou a família deste: esta é uma situação que acontecia na Europa. Nenhuma rapariga casava se não levasse o dote. Se uma rapariga tivesse um bom dote arranjava um bom marido, por isso, muitas raparigas não casavam e iam para o convento. A mulher ao levar o dote para o casamento era como uma antecipação da herança. Não podia gerir os seus bens, quem o fazia era o marido que, contudo, tinha a sua actuação limitada. Mesmo que o marido não pagasse o dote por inteiro, tinha direito aos filhos.
       Ex.: na Irlanda há a prática das mulheres levarem um dote para o casamento. O pai da rapariga paga ao pai do noivo um dote que é uma propriedade agrícola e, no dia do casamento, a escritura é passada para o nome do noivo.
à Casos em que há trocas de presentes de valor substancial entre os noivos ou directamente entre as duas famílias em causa: esta é a situação que se verifica hoje em dia. As famílias entram com bens no casamento (ex.: os pais podem comparar um andar aos filhos).
B) Tipos de casamentos e regras de residência
            O casamento tem várias modalidades:
Þ   Monogamia: em Portugal é crime uma pessoa ser casada legalmente com mais de uma pessoa.
Þ   Poligamia:
à Poligenia: casamento de um homem com duas ou mais mulheres. Por exemplo, nos países Islâmicos, com excepção da Tunísia, quem tem mais mulheres tem mais propriedades para cultivar.
à Poliandria: casamento de uma mulher com dois ou mais homens. Um dos problemas destas uniões é que depois não se sabe de quem são os filhos. Por exemplo, no Tibete muitas raparigas são mortas à nascença para não haver muitas raparigas. Já na Ásia, em geral, as filhas não são apreciadas porque têm de pagar um dote para casar.
à Casamento de Grupo: um grupo de homens casa com um grupo de mulheres. Este casamento é pouco frequente, chegando mesmo a duvidar-se da sua existência.
            Em muitas sociedades há regras de residência, ou seja, há determinados locais onde os jovens casais devem fixar a sua residência.
            Regras de Residência:
1.   Neolocal: é o que acontece na nossa sociedade, quando duas pessoas casam vão viver para a sua própria casa.
2.   Patri-local: o noivo leva a sua mulher para ir viver com a sua família (acontece em famílias extensas).
3.   Matri-local: o rapaz casa e vai viver com os seus sogros e sujeita-se à autoridade do seu sogro.
4.   Avuncu-local: o noivo leva a mulher para viver junto do seu tio materno (ex.: Moçambique).
5.   Matri-patri-local: o casal, até ao nascimento dos filhos, vivem na casa da família da mulher, depois do primeiro filho nascer vão viver para casa da família do marido.
6.   Bi-local: ou vivem na casa da família do marido ou da família da mulher.
7.   Nato-local: a mulher não se separa dos seus familiares.
O tipo de prestação realizada por ocasião do casamento tem significativa relação com a regra da residência. O casamento em que não se verifica prestação por parte do noivo anda associado com especial frequência às regras de residência matrilocal, neolocal, e bilocal.
9.3. Parentesco e linhagens
A) Regras de filiação
A constituição de grupos de parentesco anda ligada às ideias aceites sobre a linhagem das pessoas.
Uma linhagem é o conjunto das pessoas que, por terem um ascendente comum, constituem uma linha de família.
No entanto, é evidente que neste campo existe, por um lado, a realidade biológica, pela qual cada pessoa pertence ao mesmo tempo à linhagem do pai e da mãe, e por outro, as práticas sociais que podem interpretar os laços de sangue de diversas formas, e que, na verdade, se sobrepõem às realidades biológicas na definição do comportamento das pessoas.
Existem vários de linhagens, podendo entender-se que, para efeitos de direitos e obrigações resultantes da descendência, os filhos podem pertencer  à linhagem só da mãe ou só do pai, os filhos à linhagem da mãe e as filhas à linhagem da mãe, enfim, de formas várias que analisaremos com pormenor de seguida:
·       Filiação indiferenciada ou cognática: se a linhagem é traçada sem distinção, se os laços de parentesco são iguais para o lado da mãe e do pai;
·       Filiação patrilinear ou agnática: se a linhagem for contada só pelo lado do pai (pai, avô, bisavô, e por aí fora);
·       Descendência matrilinear ou uterina: se a linhagem é traçada integrando os indivíduos do lado da mãe;
(estas duas últimas são, portanto, linhagens unilineares)
·       Filiação dupla: se o indivíduo é ligado, simultaneamente, ao grupo patrilinear do pai e ao grupo matrilinear da mãe (a qual se verifica em algumas sociedades tribais).
É evidente que a observância de uma regra unilinear não significa que na sociedade em causa a criança não tenha, ao mês o tempo, laços com a mãe e com o pai. Mesmo nos casos de descendência unilinear, o indivíduo tem, geralmente, algumas obrigações para com o progenitor do grupo unilinear a que não pertence. O que tem de ser entendido em termos diferentes é a intervenção de cada um dos sexos na geração.
Como nota Radcliffe-Brown, o que leva a qualificar de matrilinear ou patrilinear certo tipo de descendência é o facto de se atribuir socialmente predominância a uma das linhagens.
Ou, como acrescenta C.C. Harris, o reconhecimento da filiação é por toda a parte bilateral, pois o indivíduo relaciona-se com as duas partes (pai e mãe). O que varia, na realidade, são as regras de descendência, isto é, os princípios a que se obedece na transmissão de direitos e deveres, e na atribuição de posições sociais.
Nas sociedades de tipo europeu, a regra é a filiação indiferenciada ou cognática, mas entre as populações tribais, encontra-se mais facilmente casos de descendência unilinear.
Os casos de dupla filiação parecem, contudo, muito raros. Para grupos em que o critério do parentesco é um elemento fundamental de identificação e solidariedade, e mesmo de estruturação social, como é o caso das sociedades tribais, a descendência unilinear apresenta evidentes vantagens.
Com base num critério unilinear de descendência, é possível saber claramente qual a que grupo cada pessoa pertence, e assim, quais os direitos e deveres que lhe assistem. Pelo mesmo critério é possível constituir com facilidade um grupo muito numeroso, ligado por laços de parentesco bem definidos. O mesmo já não acontece quando a regra seguida é a filiação cognática. Como tal, nas sociedades onde vigora esta descendência, os grupos de parentesco têm usualmente um menor papel social
B) Grupos de parentesco
A regra unilinear permite a constituição de grupos de parentesco consanguíneo mais amplos, através da agregação das linhagens.
Quando várias linhagens têm uma tradição de ascendência unilinear comum constituem um grupo de parentesco mais vasto que é o clã. Este termo não é consensual, pois autores como Morgan defendem que o termo só se aplica aos grupos compostos na base da ascendência matrilinear, designando-se os grupos de ascendência patrilinear de gens.
Murdock fala, em conjunto, destes dois grupos de descendência como sib, distinguindo entre matri-sib e patri-sib. Para Murdock, clã não é um qualquer grupo de descendência, mas sim um grupo constituído numa base residencial, incluindo, por isso, além dos parentes de sangue, afins como os cônjuges, e exclui mesmo alguns parentes consanguíneos, nomeadamente os que, através do casamento, se fixaram noutro grupo residencial.
Fox contraria vivamente esta utilização da palavra sib. Para si, este termo designa, entre os povos teutónicos, uma unidade exôgamica que corresponde ao núcleo da parentela, e que ainda hoje sobrevive, perpetuando a Igreja Católica o casamento entre indivíduos com certo grau de parentesco. Fox prefere conservar o termo clã, apesar de não ser satisfatório, para classificar os grupos de descendência mais amplos que os de linhagem.
Diversos clãs que estão unidos por um parentesco unilinear constituem uma fratria.  Em certas sociedades existem apenas duas fratrias, repartindo-se os indivíduos entre elas. Isto vai resultar numa estruturação social característica, que se manifesta na forma de grupos de parentesco que se designam por metades, ou moitiés. Todos estes grupos estão, em regra, associados a normas de exogamia, isto é, à proibição de casamento com elementos do mesmo grupo unilinear.
Quando uma regra de parentesco consanguíneo anda ligada à formação de um grupo residencial, são naturalmente necessárias algumas adaptações, em especial quando a filiação unilinear corresponde, como é habitual, com  regra da exogamia. No grupo residencial têm sempre de incluir-se alguns afins, e excluir-se parentes consanguíneos, nomeadamente aqueles que, por efeitos o casamento, vão residir junto de outros grupos. Assiste-se , assim, a um grupo misto de residência e filiação.
Os Nayares são uma casta marcial do Malabar, dividida em certo número de grupos, cuja organização social tem por base o Taravad. Este é uma linhagem matrilinear que vive em colectividade, dela fazendo parte todos os descendentes de ambos os sexos na linha feminina.
Com o objectivo de manter todos os filhos das mulheres da linhagem juntos, os Nayares adoptaram um sistema de acasalamento que priva o progenitor de todos os direitos sobre os filhos nascidos de uma mulher da linhagem. Quando atinge a puberdade, a rapariga é casada com um homem escolhido pela família numa outra linhagem, com a qual a família mantém relações para este fim. No terceiro dia após o casamento, procede-se o divórcio de acordo com a regra hindu. Deste modo, o marido legal perde todos os direitos aos filhos da mulher. Esta, que em virtude deste casamento se tornou adulta, pode tomar amantes, que lhe permitirão gerar mais filhos, mas que não terão qualquer tipo de direitos sobre estes, que pertencem à linhagem da mãe.
Estes grupos residenciais estão sujeitos às consequências do seu dinamismo demográfico. Quando o número de membros se torna demasiado para permitir a residência em comum, alguns separam-se para constituir uma nova linhagem, preservando, através do nome que transportam, uma tradição de origem comum. Este processo de formação de novas unidades ou estirpes é designado de segmentação.
As linhagens e clãs podem, em certos casos, guardar a memória do grau de antiguidade da sua separação, conservando, assim, uma hierarquia entre os vários ramos ou estirpes, ou então, podem apenas preservar a memória do parentesco. No primeiro caso, em que os segmentos constituem séries convergentes, as pessoas da linhagem têm em regra precedência, em funções cerimoniais ou no acesso a certos direitos, sobre as outras, e estas entre si têm precedência por ordem de proximidade da sua própria linhagem, relativamente ao tronco de onde todas provêm.
A memória dos laços entre os vários segmentos é um aspecto importante da coesão entre os grupos, podendo mesmo ser a base de toda uma nacionalidade. Os Somalis são um bom exemplo disto. Encontram-se divididos em várias linhagens, mas unidos por um ascendente comum, somaale.
9.4. Exogamia e aliança. Sistemas de parentesco
Na generalidade das sociedades conhecidas existem regras que interditam as relações sexuais entre pais e filhos, irmãos e irmãs, e ainda entre parentes muito próximos. A proibição do incesto, que  parece regra geral, é relativa às relações sexuais, está geralmente associada a regras relativas às pessoas com quem não se pode casar e muitas vezes a regras relativas às pessoas com quem se deve casar.
Existem, assim, regras de exogamia que obrigam homens e mulheres a procurar cônjuge em grupos de parentesco diferentes do seu, dando origem a um sistema de relações complexas entre grupos. Frequentemente, a pessoa não é livre de escolher o seu cônjuge em qualquer grupo, devendo limitar-se a aliar-se necessariamente com pessoas de um grupo de definido.
            Sistemas de casamento:
·         sistemas complexos: sistemas de casamento em que apenas existe uma regra proibitiva de casamento com certa categoria de pessoas – designadamente parentes próximos.
·         sistemas elementares: aqueles em que vigoram, em simultâneo, regras que interditam o casamento dentro de certo grupo de parentesco, e impõem o casamento dentro de um ou mais grupos bem delimitados. Subdividem-se em:
·         sistemas simétricos ou directos: aqueles em que há troca directa de cônjuges entre os grupos. As trocas podem fazer-se em cada geração, e o sistema diz-se imediato, ou pode ser feita de uma geração para outra, e o sistema diz-se diferido.
·         sistemas assimétricos: aqueles em que não há tal troca directa.
O casamento de um homem implica, em virtude da regra exogâmica, que uma outra família deva ceder-lhe uma mulher. Por seu lado, os irmãos desta mulher têm de procurar mulher fora da sua própria família para se poderem casar. Uma forma prática de se resolver este problema é através da troca de irmãs. Um homem recebe como mulher a irmã de outro e cede-lhe a sua própria irmã. Ou seja, mais realisticamente, aqueles que têm a responsabilidade de realizar os casamentos dos jovens (pai, mãe, irmão da mãe) obtém para o seu rapaz uma mulher em outra família, e cede uma das mulheres da sua própria família em troca. Os homens do grupo A casam com mulheres do grupo B, e os homens do grupo B, por seu lado, casam com as mulheres do grupo A.
Esta troca de mulheres favorece a necessidade de constituir família atendendo às regras de exogamia, e é, simultaneamente, um elemento importante do relacionamento entre grupos que vivem no mesmo território.
Estas trocas de mulheres é de tal modo importante para a formação de alianças entre grupos vizinhos que alguns antropólogos como Lévi-Strauss consideram mesmo a necessidade de preservar as mulheres como o fundamento da exogamia. Um exemplo bastante claro deste processo é o que pode ser demonstrado com duas linhagens patrilineares A e B.
De geração para geração os homens da linhagem A casam com as mulheres da linhagem B e reciprocamente. Com o crescimento do grupo e a agregação das linhagens em clãs, preservando-se a memória as sua origem pelo nome que designa o grupo, pode resultar que os homens A casem sempre com mulheres de linhagem B, e homens B sempre com mulheres A disto resulta a divisão da tribo em duas metades exôgamicas. Estas metades desempenham um papel fundamental em toda a vida social, mantendo entre si relações simultaneamente de cooperação e rivalidade. Esta organização encontra-se em povos de diversas regiões, como em algumas tribos da Oceânia, em algumas tribos da América do Norte, e também em algumas tribos africanas.
Este é um sistema simétrico, que implica a troca directa de mulheres entre linhagens na mesma geração, correspondendo, assim, ao que se chama de troca imediata. Contudo, o sistema pode sofrer certas alterações que  conduzam a uma situação de troca diferida, ou seja, de uma geração para a outra.
Quando vigora um sistema assimétrico, a tendência é para a sociedade se repartir, em relação a cada linhagem, em linhagens que dão esposas e em linhagens que recebem. Em regra, um homem pode casar-se apenas com mulheres da ou das linhagens a que a sua própria linhagem não cede esposas. Ou seja, não há trocas directas. O que um homem faz é casar com uma  mulher de um grupo que já deu uma mulher ao seu próprio grupo. A essência dos sistema assimétrico é que, havendo várias linhagens A, B, C, D, o casamento se faz de A para B, de B para C, de C para D, de D para A e assim por diante, sempre atendendo à regra de que uma linhagem não cede mulheres àquela  linhagem onde toma esposa.
Os sistemas complexos são essencialmente baseados na proibição do casamento dentro de certos graus de parentesco, juntamente com a regra da livre escolha do cônjuge fora disso. Nas sociedades tribais, onde o parentesco tem  maior importância, esta regra tende a completar-se com outras, transformando os sistemas complexos que aí encontramos em sistemas intermédios entre os sistemas elementares e os sistemas correntes na sociedades europeias.
Duas fórmulas muito estudadas pelos antropólogos são os sistemas Crow e Omaha, sistemas particulares de escolha do cônjuge em prática no continente americano.
O sistema Crow é matrilinear, e a regra que se segue é que um homem não pode casar dentro do seu próprio clã, nem do clã do seu pai, nem do clã do pai da sua mãe.
O  sistema Omaha é patrilinear, e a regra adoptada é que um homem não pode casar dentro do seu próprio clã, nem no clã da sua mãe, nem no clã da mãe do seu pai.
O que distingue estes dois sistemas de troca indirecta, em que há clãs dos quais se recebe mulheres e outros a que se dá mulher, é o facto de se aplicarem a indivíduos e não a grupos no seu conjunto.
9.5. Tipos de famílias
Como consequência, cada adulto torna-se membro de duas famílias, pois àquela onde nasceu vem juntar-se a que constituiu, por sua vez, juntando-se com uma pessoa do outro sexo. Assim, formam-se dois tipos de famílias:
·         a família de orientação: que é aquela em que o indivíduo nasce;
·         a família de procriação: aquela que ele funda pelo casamento;
A constituição de uma família de procriação não implica necessariamente o afastamento em relação à família de orientação.
A junção na mesma residência de uma ou mais famílias de procriação e da família de orientação de um dos cônjuges gera um fenómeno designado por família extensa.

Murdock  define a família como «um grupo de pessoas que vivem na mesma casa, com actividade laboral e que têm, pelo menos, dois adultos de sexo diferente e que mantêm entre si uma relação sexual socialmente aprovada».

9.6. A teoria de Talcott Parsons sobre a funcionalidade actual da família nuclear
Talcott Parsons, sociólogo americano, procedeu a uma análise do papel da família na moderna sociedade industrial.
Na sua visão sociológica, o papel social da família resulta das funções que esta realiza no quadro da estrutura social. Considera que viver numa família nuclear é mais conveniente do que numa família extensa, porque tem mais adaptabilidade e mobilidade.
Parsons avança com a ideia de que nas sociedades primitivas ou exóticas, a família exerce diversas funções. A saber:
·         procriação;
·         regulação sexual;
·         apoio sócio-emocional (necessidade de amizade);
·         criação dos filhos;
·         produção de recursos necessários à subsistência;
·         defesa contra o exterior;
·         educação e socialização das crianças;
·         apoio na doença;
·         apoio na velhice;
·         culto religioso;
·         funções de inserção na realidade social global;
Face a todas estas funções e condições, a forma de organização familiar  mais adequada às necessidades é a família extensa.
A modificação da estrutura social implica, naturalmente, em muitos casos, a perda de funções da família. Na sociedade industrial e urbana, o processo de diferenciação levou a uma ainda maior transferência de funções para estruturas exteriores à família. Além do Estado, da Igreja, da escola, as novas estruturas de produção, as empresas enquadram os indivíduos em muitos sectores da sua vida. Como tal, a  família esvazia-se, cada vez mais de funções que não tenham directamente a ver com a procriação e a criação e socialização das crianças e o apoio emocional aos membros da família.
A função decisiva e insubstituível da família é gerar novos seres e assegurar as condições socio-emocionais necessárias ao bom equilíbrio das personalidades, e proporcionar o apoio para uma boa socialização na infância e na juventude.
Nas sociedades urbanas e industriais a ligação entre a unidade familiar e a estrutura social de conjunto faz-se através da actividade profissional. A profissão é o meio essencial de o homem prover ao sustento dos seus. É também a via por onde se define a posição social da família. É o prestígio relativo da profissão exercida pelo chefe de família e o nível de rendimentos que por ela se alcança que decidem substancialmente o estatuto social da família na sociedade urbana.
Pelo aqui exposto, do ponto de vista de Parsons, o modo de funcionar dinâmico da sociedade urbana e industrial requer um tipo de família facilmente móvel, desligada de qualquer rede rígida de laços de parentesco. Como tal, o tipo de família para que se tende nestas condições é o da família nuclear isolada.
9.7. O facto da interajuda familiar
A) Formas de Corrente de Interajuda
Esta análise de Talcott Parsons sobre a tendência para o desaparecimento da família extensa e a emergência de um padrão de vida baseado no modelo de família nuclear isolada ganhou uma particular importância, especialmente dadas as reacções que provocou entre os investigadores britânicos. Muitos insurgiram-se, na realidade, contra esta tese, e surgiu diversa literatura a defender o papel que a família ainda desempenha nas sociedades urbanas e industriais
Vários inquéritos realizados sobre famílias evidenciam, de facto, a existência de ligações frequentes entre os seus membros, ainda que eventualmente dispersos por famílias nucleares geograficamente separadas. Sussman ressalvou precisamente este facto nos inquéritos que realizou e, procurando sistematizar a documentação disponível, nota que a interligação familiar, na sociedade americana, se traduz em:
1.  práticas de entreajuda: que compreendem a troca de serviços, a oferta recíproca de presentes, a assistência financeira e o aconselhamento;
2.  as visitas entre parentes: que englobam as reuniões familiares e  as actividades recreativas em comum.
A troca de serviços reflecte-se em vários campos. Por exemplo, é frequente que os parentes se façam companhia nas idas às compras. Os filhos de uma casal podem ser deixados por umas horas ao cuidado de parentes enquanto os pais estão no emprego, ou vão jantar fora, ao cinema.
A assistência financeira passa, geralmente, de geração em geração. Os pais auxiliam os filhos recém-casados por motivo de gastos excepcionais, como a compra de móveis, de um automóvel, da compra da casa.
O aconselhamento tem enorme importância na resolução de problemas que possam surgir às gerações mais jovens da família. Para a  solução de problemas, é frequente as jovens raparigas terem contacto com as mães. Todas as decisões de grande importância e responsabilidade, como o  casamento, o emprego, as grandes compras, são frequentemente discutidas com os pais ou com outros parentes próximos qualificados.
As visitas entre parentes e as reuniões com objectivos recreativos fazem parte do processo de preservação de laços de intimidade
B) A interajuda e o ciclo de vida da família
Este tipo de ligação e interajuda verifica-se entre pais e filhos, entre parentes próximos dos dois lados da família, e, menos frequentemente entre parentes afastados. Parece evidente, no entanto, que estes diferentes tipos de interligação entre os membros dispersos de uma mesma família se verificam por diversas formas, de acordo com o momento do ciclo de vida da família, o sexo e nível social das pessoas.
A família nuclear passa por fases que compõem um ciclo característico, em função do qual se organizam os contactos.
Esta família constitui-se pelo casamento. A primeira fase é a que muitos autores designam de home-making, o estabelecimento do lar, e dura até ao nascimento do primeiro filho. A segunda fase, que é a da criação dos filhos, vai do nascimento do  primeiro filho e vai até ao casamento ou autonomização do primeiro filho. A terceira fase é a da dispersão, e vai do casamento ou *independência do primeiro filho ao casamento do último filho. A última fase é a final e vai do casamento do último filho até à morte dos cônjuges.
C) A interajuda familiar nos diferentes níveis sociais
Vários estudos revelam que a relevância da interajuda familiar varia substancialmente consoante o nível social.
Nas camadas sociais mais elevadas, a memória das linhagens é ligações familiares é cuidadosamente mantida, servindo as extensas parentelas como um apoio importante do indivíduo na preservação de um status social elevado. Os membros da família têm um interesse pessoal na protecção dos interesses dos seus parentes, procurando abrir-lhes o acesso a empregos e carreiras de prestígio, evitando a descida social dos parentes.
Já nas camadas médias da sociedade, o papel da rede de relações familiares apresenta-se como muito menos importante na vida das pessoas. Neste nível encontram-se famílias com considerável mobilidade residencial e profissional. O chefe da família muda constantemente de emprego, sempre à procura de melhores oportunidades. Com a mudança de emprego ou de lugar de trabalho, verifica-se também a mudança de residência. Esta mobilidade implica uma certa ruptura com o resto da família.
Neste nível, são muitos os casos de pessoas cujo nível social está em franca evolução. Nalguns casos há promoção social e noutros, pelo contrário, há perda de status de uma geração para outra.
Este fenómeno da interajuda familiar assume uma importância muito mais acentuada nas camadas mais modestas do que nas camadas médias da sociedade. Nesta camada, onde as disponibilidades financeiras são muito reduzidas, a interajuda familiar toma sobretudo a forma de prestação de serviços e de apoio em períodos de dificuldade, pelo que as pessoas possuem um forte sentimento de solidariedade.
9.8. O fenómeno da família extensa modificada
Estas diferentes práticas familiares demonstram que subsiste no meio urbano uma rede de relações de parentesco que desempenha um papel de bastante importância na vida das pessoas.
Envolve basicamente as famílias de orientação dos cônjuges de cada família de procriação, e os siblings de um e outro, com as respectivas famílias de procriação. O que é certo é que não se trata da família nuclear isolada da análise de Parsons. Mas também é verdade que não se trata da família extensa no seu tipo convencional. As pessoas vivem em contacto, mas não estão na  íntima dependência uma das outras. Os parentes são usados sobretudo como apoio emocional, e, por vezes, como fonte de pequenos serviços, no caso de residirem na vizinhança, e, esporadicamente, como fonte de auxílio financeiro.
Posto isto, para designar este tipo de arranjos das relações de família, Litwak propôs a designação de família extensa modificada. O que se verifica é que, como foi referido atrás, as pessoas vivem em contacto permanente, mas não se encontram na dependência financeira umas das outras. Preservam a sua autonomia. O que acontece é que a família de orientação e os outros parentes surgem agora como uma espécie de fundo de reserva a que se recorre selectivamente, com base nas inclinações e simpatias pessoais. Existe a ideia de que é legítimo e razoável esperar, em caso de dificuldade maior, o apoio de parentes que estejam em condições de prestar auxílio.
9.9. A estrutura da família nuclear
A) A diferenciação dos papéis sociais
A família nuclear apresenta-se como um conjunto de adultos e adolescentes ou crianças ligados por uma certa repartição de papéis sociais. Nestes papéis afirmam-se, simultaneamente, elementos de diferenciação e de integração, necessários ao bom funcionamento da família na realização dos seus objectivos.
A família assenta nas relações que se estabelecem entre as pessoas que a compõem. O jogo destas diferentes ligações entre os membros da família, que evolui no decurso do ciclo familiar, reflecte-se no bom equilíbrio do conjunto e no adequado desempenho de duas das suas funções essenciais, que são a correcta socialização dos filhos e o harmonioso equilíbrio socioemocional dos cônjuges.
Talcott Parsons analisa, basicamente, no seio da família quatro papéis sociais, diferenciados segundo o sexo e, globalmente, segundo a idade, que são os do pai mãe, filho e filha.
O pai e a mãe, relativamente aos filhos, têm uma posição dominante, que pode atenuar-se quando estes atingem a idade adulta. Da desigualdade de poderes que daqui resulta decorre um primeiro eixo de diferenciação entre superior e inferior no seio da família. É uma desigualdade inerente à ordem de gerações.
Por outro lado, entre o pai e a mãe, e também entre filhos e filhas, há uma diferenciação que resulta do sexo e das atitudes e comportamentos que lhe andam associados. O homem mostra, em regra, atitudes e comportamentos em que predominam elementos do tipo instrumental, enquanto a mulher evidencia atitudes e comportamentos do tipo expressivo. O papel do pai é predominante em relação ao filho, assim como o da mãe o é relativamente à filha.
Os papéis de cariz instrumental, que tendem a situar-se sobretudo no domínio das relações com o meio exterior à família, procuram assegurar o equilíbrio desta face aos condicionalismos ambientais em está inserida.
Os papéis com prioridade expressiva situam-se no âmbito da integração interna das relações familiares, visando manter as tensões entre os membros da família a níveis de tolerância.
Tudo isto, o facto de o homem assumir papéis com prioridade instrumental e as mulheres papéis de cariz expressivo no seio da família nuclear, liga-se com as condições em que tem de fazer-se a criação dos filhos.
B) O processo de socialização dos jovens
A diferenciação dos papéis e o fraccionamento do sistema familiar em subsistemas estão pois ligados às necessidades da boa socialização das crianças e do adequado equilíbrio socioemocional dos adultos.
O crescimento e socialização dos jovens enfrenta alguns problemas de adaptação, em que a conveniente evolução das suas relações com o pai e a mãe desempenham papel central.
Nos primeiros anos de vida, a relação mais íntima é estabelecida com a mãe, em torno da qual gira toda a existência neste período. Porém, esta identificação tem de regredir progressivamente para que as crianças se tornem adolescentes e adultos equilibrados.
Os jovens têm de aprender os seus papéis sociais em contacto com o pais, com os grupos de amigos e com outras pessoas.
Numa primeira fase, o processo é mais fácil para as raparigas, pois a aprendizagem pode fazer-se com a mãe, com a qual tem um contacto diário muito intenso. Para a rapariga, desempenhar um papel de adulto é aprender a desempenhar o papel social de mulher da sua mãe. É por isso que as raparigas estão mais cedo em condições de iniciar a vida adulta.
Para os rapazes, é necessário afastar-se do modelo materno e adoptar o modelo paterno, o estilo masculino de viver na sociedade. Segue o exemplo do pai, mas é também nos peer-groups ou grupo de amigos que faz esta aprendizagem.
Para além destas influências maternais e paternais, é necessário também um certo afastamento em relação aos modelos familiares, que também é parte da preparação para a vida adulta. Isto relaciona-se com a necessidade de afirmação pessoal na sociedade.
C) Variações na diferenciação dos papéis familiares
O padrão de diferenciação de papéis sociais é comum a todos os níveis sociais. No entanto, podem observar-se certas variações significativas na sua expressão real entre as várias camadas.
Num sentido extremo verifica-se que o homem se restringe às suas actividades profissionais, e dedica os tempos livres ao convívio com os amigos, enquanto que a mulher tem o cuidado exclusivo da gestão doméstica, ocupando os tempos livres com o seu círculo de amigas. Noutro extremo, verifica-se que o casal tem uma actividade muito integrada e compartilhada, fazendo o marido muitas das actividades domésticas, e passando o casal maior parte do tempo de ócio em conjunto.
Toda a documentação obtida e reunida pelos sociólogos americanos acerca do comportamento das famílias de diferentes níveis sociais, permite contrastar as diferentes interpretações de papéis no seio da família:
·       classes populares: há uma divisão acentuada das tarefas de cada cônjuge. Há uma grande diferença entre as tarefas desempenhadas pelo homem e as desempenhadas pela mulher. Porém, quando a mulher também trabalha, o homem pode ajudar nalgumas tarefas domésticas. No que diz respeito à integração dos filhos na vida, é esperado que estes cresçam à imagem dos pais, sendo a educação e socialização orientada nesse sentido. É, pois, uma relação rígida em que o pai é a figura autoritária, é quem põe ordem nas coisas.
·       classes médias: verifica-se uma maior interpenetração de papéis entre marido e mulher. É muito comum os maridos ajudarem as mulheres, porque estas, geralmente empregadas, carecem desta ajuda nas lidas domésticas. A socialização dos filhos é igualmente feita de um modo permissivo, gozando as crianças de uma certa liberdade de acção, de modo a poderem cultivar a sua própria personalidade. Os pais não estão à espera que os filhos sejam iguais a eles, mas tão só que sigam a sua propensão natural. Apenas os guiam no sentido de que se desenvolvam bem, de acordo com princípios e valores válidos. A violência educacional é muito menor.
·       classes altas: como o dinheiro é abundante, têm a possibilidade de pagar a pessoal doméstico para realizar as tarefas da casa. O marido mantém-se dentro do seu papel masculino, sendo que a mulher tem uma vida social activa, participando em eventos e acontecimentos da alta sociedade. Para manterem a fortuna e o estatuto social, os filhos têm que ser educados com disciplina e rigor, para que se tornem bem educados e bons gestores, devendo saber exactamente como se devem comportar no seu meio social. Também aqui os filhos devem seguir o modelo dos pais, que é o de uma socialização própria da classe alta, e não de acordo com a propensão natural das crianças ou adolescentes.
       Por tudo isto, é inevitável concluir que a mulher desempenha um papel importante e dispõe de uma força enorme no seio da família. Não se toma uma decisão sem se ouvir a sua opinião. Na classe popular é mesmo ela a gestora real do património da casa e da família.

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posted by Mikasmokas @ 8/24/2009   0 comments
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