Correio Braziliense , 18/03/02
Os pais acima da Justiça ANAND RAO Jornalista
Mulheres, parabéns pela emoção e percepção singular com que conduzem a vida. Isto me leva a escrever o artigo, ora em pauta, sobre a participação do homem pai, do novo pai, do novo homem, na criação dos filhos, estando separado do mesmo. A separação, hoje é uma das instituições mais comuns da sociedade; 46% dos alunos matriculados nas escolas públicas são filhos de pais separados portanto, temos que avaliar e analisar a atitude do casal moderno, do “pãe”, que é o pai que supera e moderniza seus limites, e quer participar com suas idéias masculinas na criação, educação, saúde, enfim, toda a emoção e razão que compõe a vida de um filho. No Brasil a Aspase, Associação dos Pais Separados, e Associação dos Pais para sempre, já devidamente constituídas, têm dado grande suporte psicológico aos marinheiros de primeira viagem, pais separados e que se vêm perdidos neste descaminho, que se visto com outros olhos, é um caminho. Tais associações possuem encontros dinâmicos, proporcionando reuniões de auto-ajuda e apresentando projetos de lei no Congresso para maximizar a atuação do pai com o filho. Em Brasília, alguns homens, que se encontraram através de endereços eletrônicos (e-mails) fornecidos pelas Associações supra-citadas, têm mantido contato com o intuito de formar a seção Brasília de uma grande Associação Nacional que está sendo formada após a fusão da Aspase com a Associação de Pais para Sempre, gerando a Aspase - Associação de Pais para Sempre, uma só, forte e unida. Sendo assim, o artigo em questão, é escrito para a mulher moderna, aquela que a cada segundo amplia sua visão de mundo, e através dos seus atos, não quer mais ser a provedora solitária da formação de um filho, mas, quer dividir amigavelmente, de forma madura, com o ex-companheiro, esse desgaste. É bem verdade, que quem fica com o filho após uma separação, tem uma chance enorme de desgastar o relacionamento com o mesmo. Como a Justiça, na maioria de suas sentenças, acredita que a mãe é o celeiro mais próspero para a criação de um filho, muitos pais resumem a paternidade ao exercício de pegar o filho de duas em duas semanas e dormir com o mesmo uma vez a cada quarta-feira. A percepção feminina é singular, além do amplo desenvolvimento social e profissional que a mulher vem obtendo, ela tem repensado a atuação que o ex-companheiro deve ter com relação à criação do filho. A mulher moderna abre espaço para que o mesmo possa se posicionar e discutir a educação, a saúde, enfim, tudo que envolve uma criança no processo de sua formação. Se formada com as percepções masculina e feminina, a criança, com certeza, estará pronta para enfrentar a alegria e os percalços da vida, e a mulher moderna, madura, sabe disso. A disputa pelos filhos é prejudicial ao mesmo. É impossível, no final de um Fla x Flu, os ânimos estarem inalterados. Toda disputa provoca no filho tristeza, desequilíbrio, e nos pais, principalmente os antiquados, vitórias, pois, cada um se vangloria quando uma sentença os favorece. É importante ressaltar que a sentença mais importante está nas mãos do casal, que se moderno em conceitos e atitudes, não leva nem o caso à Justiça, a Justiça passa a ser suporte do nada e a compreensão se faz pela absorção de valores que estão arraigados nos dois que crescem a cada segundo, a cada emoção, a cada razão, vivenciada. Por isso, os dois têm que compreender o raciocínio, o sentimento, a percepção um do outro, ele dela e ela dele, assim, estarão pensando no lado psíquico do filho. Não devem se expor, nem devem expor seu filho, devem simplesmente acordar tudo, e quando não houver acordo, o mais sábio, com certeza, cederá ou enfim, a Justiça, infelizmente, julgará. Vários leitores dirão que isto é utopia. Eu direi, que tudo na vida, a busca de algo novo, sempre no início é utopia. A relação está nas mãos de vocês, pai e mãe, mas, a sabedoria dos atos está nas mãos da maturidade da relação, que geralmente ao enfrentar a dor, se traduz em desacatos, mas pode ser traduzida num encontro com o novo, com uma macro-visão, uma nova forma de ver a vida, que dará suporte e equilíbrio na formação do novo filho, que verá seus pais separados, unidos por uma nova atitude para consigo. Este é um artigo, portanto, em homenagem à nova mulher, que é uma mulher de macro-visão, que quer dividir com o pai a responsabilidade e o desgaste de se criar um filho, não necessitando da intervenção da Justiça para endossar seus atos. A nova mulher e o novo homem sabem muito bem o que querem, e nunca deixarão juiz nenhum orientar-lhes pois, eles estão sendo orientados por uma nova concepção de vida, a concepção de fazer o filho feliz, a concepção de não disputar nada pois, os dois são vencedores, vencedores em tudo e o troféu é o filho que estará com tal atitude, equilibrado, maduro, enfim, feliz. Seu olhar, com certeza, eternizará o brilho singular da paz, pois, sua criação será um arcabouço de soluções, sem impasses, com rumo, com norte, enfim, com amor, que é o sentimento que o filho mais quer, mais sente falta, mais vive e mais ama.
Publicado em 05/08/2004 na coluna Sem Censura do caderno Educação do jornal Folha Dirigida:
A reinvenção do papel do pai
Por Maria Luisa de Moura Carvalho, psicanalista e especialista em psicologia jurídica
Começou bem de mansinho. Ele, como quem não queria nada, afastou a sogra na hora do parto e se fez presente naquele momento único e inesquecível: a chegada do filho já amado. O ato lhe possibilitou construir uma sólida e carinhosa ligação amorosa com seu rebento, bem diferente da que tivera com seu próprio pai.
E assim, timidamente e um pouco sem jeito - afinal estava sob a mira dos olhares incrédulos e críticos das mulheres (até de sua própria mãe!!!) - banhou sua cria, aliviou suas cólicas e o pôs para dormir.
Depois, veio o segundo filho. A mulher, aflita e dividida entre sua profissão e os cuidados com a prole, não encontrou outra maneira a não ser abrir mão do poder materno - outorgado pelos médicos higienistas no século XIX - e, mesmo sentindo-se terrivelmente ameaçada por ter de dividir seu território, deixou que este homem passasse a compartilhar a educação dos filhos.
Assim está surgindo uma nova geração que reinventa o papel de pai, deixando para trás o modelo de pai provedor e autoritário desempenhado pelas gerações anteriores. Estes novos pais começam a ser vistos sozinhos, nas portas dos colégios, nas reuniões escolares, passeando com seus filhotes nos parques, demonstrando carinho e amorosidade antes impensáveis, derrubando com este novo comportamento o mito de que só a mulher está apta naturalmente a cuidar de uma criança.
Nas últimas novelas da TV Globo estes novos pais foram magnificamente retratados pelos personagens de Edu, divorciado (Coração de Estudante), Cristiano, viúvo (Celebridade) e Esteban, pai solteiro (Kubanacan). Os três demonstraram total aptidão e desenvoltura nos cuidados cotidianos das crianças. Sem apelar para ajuda da própria mãe, vizinha ou namorada, resolviam tudo sozinhos e tinham excelente relacionamento com os filhos.
Mas apesar das evidências de que os novos pais começam a se multiplicar, o direito de família tem demonstrado que não está acompanhando esta evolução dos usos e costumes de nossa sociedade. Faço tal afirmação porque nos processos de regulamentação de visitas dos filhos menores, em casos de separação conjugal, os juízes continuam seguindo o padrão que já se tornou clássico: estabelecer as visitas paternas em fins de semana alternados. Não se percebe nos operadores de direito a compreensão de que as caraminguadas e jurássicas visitas quinzenais praticamente impossibilitam a construção e consolidação dos laços afetivos que devem existir entre pais e filhos. A intimidade, a cumplicidade com os filhos torna-se, para os novos pais, sonho impossível.
Como o filho pode ter intimidade com um pai que só vê de quinze em quinze dias? Como não estranhar sua casa, sua eventual namorada ou até mesmo seus pais, irmãos e filhos, ou seja, a outra linhagem, se são vistos apenas esporadicamente? Como se sentir em casa se estes fins de semanas alternados são designados pela Justiça como visitas? E como, ao tornar-se adolescente, irá querer passar o fim de semana na companhia do pai, cuja chance de ter se tornado um estranho aos olhos dos filhos é tão grande?
Por outro lado, como o pai pode reconhecer uma inquietação no filho sem plena convivência com ele? Como acompanhar o desenvolvimento de sua prole, suas descobertas, protegê-los de erros e orientá-los em seus deslizes se são mantidos a distância pela Justiça?
Quantos pais insistem sistematicamente para participar mais da vida de seus filhos e são barrados por ex-mulheres poderosas e controladoras, que preferem educar seus filhos sozinhas, para não perder o poder sobre eles? Como saber do comportamento do filhote na escola, do boletim escolar, se algumas mulheres se vingam de seus ex-maridos privando-os de todas as informações? Pesquisas afirmam que muitos pais acabam se cansando e afastando-se de seus filhos por não se conformarem em desempenhar o papel de visitantes na vida da prole.
Curadores e Juízes, despertem! É chegada a hora de mudar. A psicanálise nos ensina que pai e mãe são fundamentais na formação do psiquismo de seus filhos. Não permitam mais a visita quinzenal. Troquem a fatídica e nefasta palavra visita por convivência familiar, pois usar as palavras certas pode se constituir em reforço simbólico na consolidação dos deveres e direitos entre pais e filhos. Instituam pelo menos um dia na semana para o pai estar com o filho; e que o fim de semana comece na sexta-feira e termine na segunda. Assim teremos crianças e adolescentes mais felizes, certos do amor que pai e mãe nutrem igualmente por eles. Vamos, finalmente, criar condições para que surjam cada vez mais novos pais, apesar do aumento do número de separações conjugais. Amor e convivência familiar nunca são demais!
Feliz Dia dos Novos Pais!
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