Reflexões de um Caracol à Beira da Estrada
Será a experiência estética a experiência do mundo.... o devir é um devir estético... ou será que devo atravessar a estrada?
quinta-feira, junho 29, 2006
COMO DAR NOME AOS GATOS...
Dar nome aos gatos é uma questão difícil,Não é nenhum jogo de férias;Podeis pensar que sou doido varridoQuando vos digo que um gato deve ter TRÊS DIFERENTES NOMESAntes de mais nada, há o nome que a família emprega diariamente,Tal como Peter, Augustus, Alonzo ou James,Tal como Victor ou Jonathan, George ou Bill Bailey – Todos eles sensatos nomes de todos os diasHá nomes de maior fantasia se achais que soam melhor,Alguns para cavalheiros, alguns para as damas:Tais como Plato, Admetus, Electra, Demeter – Mas todos eles sensatos nomes de todos os diasMas, digo-vos eu, um gato precisa de um nome que seja particular,Um nome que seja peculiar, e mais dignificado,Senão, como pode ele manter a cauda perpendicular,Ou estender os bigodes, ou encarecer o orgulho?De nomes desta espécie dou-vos um quórum,Tais como Muskustrap, Quaxo ou Coripat,Tais como Bombalurina, ou então Jellylorum – Nomes que nunca pertencem a mais do que um gatoMas, mais acima e mais além, falta ainda outro nome,E esse é o nome que jamais adivinhareis;O nome que nenhuma investigação humana pode descobrir – Mas o PRÓPRIO GATO sabe-o, e nunca confessará.Quando se vê um gato em profunda meditação,A razão, digo-vos eu, é sempre a mesma:O seu espírito está em ávida contemplaçãoDo pensamento, do pensamento, do pensamento do seu nome:Do seu inefável efávelEfanifávelProfundo e incontável singular Nome.

T.S. Elliot (1888 – 1965)
In Assinar a Pele – Antologia de Poesia Contemporânea Sobre Gatos(trad. De João Luís Barreto Guimarães – Poemário da Assírio e Alvim)
posted by Mikasmokas @ 6/29/2006   1 comments
terça-feira, junho 13, 2006
Sobre o conceito de amor e os chats
A CODIFICAÇÃO DA INTIMIDADE NOS AMBIENTES VIRTUAIS

Encontro em Luhmann (1991) alguns temas pertinentes a esta análise no trato da questão do conceito de amor, e que relaciono ao tema aqui proposto como um aprofundamento da compreensão dos comportamentos dos internautas nos ambientes onde se travam trocas discursivas de conteúdo afetivo/sexual.
A linguagem e os discursos estão invariavelmente ligados à sociedade e às crenças que circulam no meio desta. Pretendi mostrar que a idéia de que o internauta é senhor do seu próprio discurso, como se estivesse numa esfera muito particular de expressão a ponto de conseguir subtrair as influências que sofre da mídia ou do meio social onde vive, freqüentemente relacionada ao comportamento dos usuários de chats, é uma falácia que não encontra equivalente na realidade concreta. Os indivíduos agem de acordo com o que são levados a acreditar. Costa, da mesma forma, mostrou que o amor é um conceito construído a exemplo de outros conceitos, e que a natureza do amor consiste numa elaboração desenvolvida em conjunto com a sociedade, tendo a sua historicidade e motivações inerentes.
Para Luhmann o amor é um meio de comunicação, e como tal reúne especificidades que são bastante diferentes da idéia de amor como sentimento. Os sentimentos amorosos, de acordo com ele, são correspondentes a um código simbólico inserido na sociedade e com antecedentes históricos definidos. A despeito da definição desses antecedentes, o amor tem sido uma evolução constante, análoga à evolução social.
Luhmann também se utiliza da analogia ao descrever o amor como um meio de comunicação. Ele parte desse princípio para decompor o conceito de amor ao analisar a ‘probabilidade do improvável’, elemento que, segundo ele, define a evolução dos meios de comunicação.
Nos ambientes virtuais destinados às trocas de discurso afetivo/sexuais, a análise de Luhmann do amor cabe nos termos em que ele coloca o conceito como um código, uma semântica que atua a nível íntimo e pessoal e que evidencia os conflitos entre uma conformação social e coletiva e uma conformação pessoal e íntima. O amor seria neste sentido a evidência de uma dicotomia cujas

“(...) regras determinarão a expressão, a formação, a simulação, a atribuição indevida aos outros e a negação de sentimentos, bem como a assunção das conseqüências inerentes (...)” (p. 21)

O autor destaca ainda que o amor é comportamento simulável, e que esta consciência já existia no século XVIII: “um modelo de comportamento disponível enquanto orientação e como consciência do respectivo alcance, antes de acontecer o encontro com o outro, tornando também notória a falta deste, o que por sua vez pode se transformar num mesmo destino” (p. 21).
No que se refere ao tema deste estudo, a análise de Luhmann torna mais ampla a discussão por se tratar, de acordo com a analogia que ele propõe, um ‘meio de comunicação dentro de um outro meio de comunicação’, no caso, ‘o amor dentro dos ambientes virtuais’. O que procuro enfatizar é que a complexidade do trânsito de informações dentro do ambiente virtual do chat é bastante propícia aos elementos do amor constituídos socialmente, e que dentro dos chats as visões de mundo tendem a ser não somente debatidas pelos seus interlocutores, mas sobretudo defendidas de acordo com o modelo social vigente (ou a fuga deste, que não deixa de ser uma resposta).
A visão de mundo coletiva é tratada pelo autor como o ‘mundo impessoal’, um território diplomático que municia os participantes de chats (neste caso) com as prerrogativas da comunicação capazes de torná-los aceitos para o outro. Em conjunto com o municiamento destas prerrogativas, as decisões pessoais que podem ou não se coadunar com a visão de mundo em voga.
Luhmann considera o amor um meio de comunicação altamente personalizado, e com isto ele quer dizer que o amor é uma comunicação através da qual o falante procura distinguir-se dos outros. Esta é uma característica bastante acentuada na comunicação via chat: cada participante procura chamar a atenção para si e convencer o outro de que a conversa com ele pode remeter a assuntos comuns e de interesse mútuo.
A transformação do sujeito em tema, ou se preferir, do usuário em pauta, evidencia que o amor e os discursos trocados em chats são duas superfícies perfeitamente acopladas que atendem a demandas sociais específicas.

“Nos modos de comunicação do amor pode-se dar expressão ao indizível, sublinhar ou não o que foi dito, vulgarizar, retirar, riscar, compensar os mal-entendidos, corrigir os desvios através de uma mudança dos níveis de comunicação, podem-se também deparar com a réplica, mas também com o bloqueio ao longo destes meta-níveis, situados a um nível inferior ao da comunicação articulada.” (p. 32)

Neste sentido, a auto-referência faz parte de uma semântica do amor, ou seja, um exercício dos códigos de um meio de comunicação específico capaz de se interpor entre outros meios de comunicação e de influir nestes quanto aos conteúdos e práticas sistêmicas. É esta auto-referência que mantém este código disponível, e que cria nos indivíduos as expectativas e alimenta as manifestações discursivas como forma de aceitação prévia do contrato entre os usuários, se utilizarmos por base o esquema defendido por Phillipe Breton em “A argumentação na comunicação” (1999).
Ainda sobre esta codificação, Luhmann cita o exemplo do livro como uma fonte bastante plausível para os comportamentos e a expectativa gerada em relação a estes. No século XVII, a leitura dos romances era uma forma que as damas tinham de travar conhecimento com uma maneira específica de relacionamento afetivo/sexual de acordo com as normas vigentes da época. Escreve o autor: “(...) a dama leu romances e conhece o código, o que a faz aumentar a sua atenção: (...) ela está avisada”.
Reflito então sobre a vigência atual do código do amor e sua conseqüente influência na comunicação via chat. Da mesma forma que as damas do século XVII travavam conhecimento sobre as normas e os limites da aproximação afetiva/sexual por meio dos livros, os usuários atualmente encontram diversas fontes que estruturam o código do amor socialmente, vale dizer, por meio da mídia disponível nos nossos tempos. A análise da mídia seria uma prévia dos comportamentos dos internautas usuários de chats. Os conteúdos da mídia certamente estão voltados para a idéia de amor e o uso social que se faz dela, vale também dizer, após a revolução sexual, após os avanços da medicina e dos canais de informação sobre a natureza sexual de homens e mulheres, após a exploração do sexo como tema de apelo para programas de diversos tipos etc.
Da mesma forma, o aparente caos nas trocas discursivas nos ambientes virtuais dos chats é um reflexo da convivência na mídia de valores tão díspares quanto o amor puro que sobrevive além da morte (visão que o senso comum celebrizou por meio do filme Ghost – do outro lado da vida) e, num espectro radicalmente oposto a recente exacerbação da figura feminina sexualizada nos anúncios de cervejas.
Outro ponto levantado por Luhmann se refere à sinceridade na comunicação entre amantes, ponto que já comentei aqui em relação à representação propiciada pelo anonimato característico dos ambientes virtuais. Sobre isto Luhmann diz que é uma falácia, na medida em que existe uma contradição intrínseca no discurso amoroso: a sinceridade com o outro pressupõe uma sinceridade íntima do indivíduo para com ele mesmo, e nada garante que a própria sinceridade não seja uma projeção sem fundamento, “um esboço que necessita dos apoios e zonas de proteção da falsidade” (p. 224).
É constante a reclamação dos internautas usuários de chats em relação à sinceridade como um Bem a ser almejado e sobre o qual se deposita o sucesso da comunicação com o outro usuário, na medida em que o próprio discurso amoroso projeta em si construções auto-referenciais que na maior parte das vezes não podem ser saciadas com os repertórios pessoais dos envolvidos. Como podemos atestar com a resposta do usuário ‘Moreno’ colhida em pesquisa de campo:


(03:09:20) PESQUISADOR reservadamente fala para Moreno: Na sua opinião, quais são os pontos positivos e negativos dos chats?



(03:10:33) Moreno reservadamente fala para PESQUISADOR: positivo que mostra o lado de dentro das pessoas....negativo, eh muito mais facil de enganar alguem. [sic]


In: Sala 1 - Namoros ao ar livre
21 de novembro de 2002


Quero dizer com isso que a experiência do amor, tal como é constituída em nosso tempo, e tal como foi construída ao longo da sua história é mais uma prática comportamental simbólica do que uma realidade a ser vivenciada ou almejada concretamente nos meios de comunicação dos quais nos servimos como referência ou como atores atuantes. E os chats, na minha opinião, podem ser inseridos neste contexto.
posted by Mikasmokas @ 6/13/2006   1 comments
segunda-feira, junho 12, 2006
os gatinhos...

posted by Mikasmokas @ 6/12/2006   2 comments
quarta-feira, junho 07, 2006
Tese de Mestrado
Bem... vou inaugurar uma nova era no meu blog: a Era do Mestrado... LOOL

para uns será chato, para outros nem por isso. Como ando num fervilhar de ideias para a minha proposta de Tese vou colocando aqui algumas interrugações que me vão assolando sobre as investigações teóricas que tenho realizado. Feed-backs, opiniões, contra-opiniões etc são sempre bem vindas. Principalmente olhares diferentes dos meus, que às vezes estão demasiado fixos.
Para quem não sabe sou mestrando em Comunicação, Cultura e TI, no ISCTE. A minha Tese neste momento tem o título provisório de: Difusão da Música Portuguesa em Portugal. O meu orientador formal é o Prof. António Firmino da Costa e o co-orientador o Prof. José Neves, do Observatório das Actividades Culturais.
Nesta área da difusão o que pretendo é entender os processo de construção da ideia de mercado fundamentais para o processo de tomada de decisão (associados ao gatekeeping) e este à difusão da música. Referenciei 4 intermediários fundamentais: rádio, televisão, editoras fonográficas e produtoras de espectáculos.

Bem.. para introdução fico-me por aqui.
posted by Mikasmokas @ 6/07/2006   3 comments
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