Reflexões de um Caracol à Beira da Estrada
Será a experiência estética a experiência do mundo.... o devir é um devir estético... ou será que devo atravessar a estrada?
terça-feira, outubro 28, 2008
Filha, alienação parental e caracter..
Porque os blogs também são uma espécie de confessionário, de técnico de saúde mental, de escape à repressão que estamos sujeitos pelas estruturas sociais, apetece-me expor a relação com a minha filha nestes dois últimos dias.
Ora, depois de eu aceitar uma flexibilização de horários para estar com a minha filha, porque entendo que é o melhor para ela e não transforma o tempo dela numa mercadoria, eis que chegado à experiência de alguns meses nesta situação e verificar que se já partilhava pouco tempo com ela, agora partilho ainda menos. Salve-se a flexibilidade, posso de facto vê-la em outros horários, mas curiosamente em menos tempo e com uma espécie de supervisão constante da mãe (sendo que anteriormente eu e a minha filha tínhamos criado o nosso próprio espaço). Para quem sabe sobre o conceito de Síndrome de Alienação Parental sabe que não é preciso afastar fisicamente uma criança do seu progenitor, basta afasta-la emocional e afectivamente. Uma das técnicas básicas usadas essencialmente pelas mães, visto que em caso de conflito são elas que detêm a guarda em mais de 85% dos casos, é as chamadas actividades extra curriculares. E eu já começo a sentir isso, até porque já me foi dito hoje pela própria mãe que agora que ela estava a entrar nesta idade (4-5 anos) este tipo de actividades iria aumentar. Até aqui tudo bem, não fosse eu ter aceite a flexibilização com o objectivo de tentar dar uma maior normalização às relações entre pais e a minha filha. A flexibilização e o incremento destas ditas actividades traduziu-se em que os fim-de-semana com a minha filha, 15 em 15 dias , desaparecessem. Se os exijo agora só logo acusado como o mau da fita. A título de exemplo ainda, visto que a minha filha fazia alguma resistência de manhã a estar comigo (por alguma razão que me transcende) combinamos que eu iria antes busca-la à escola e estaria com ela. Ontem, fui busca-la, como TODOS os dias o faço e ingenuamente esqueci-me que tinha ginástica. Em vez de a poder ir busca-la às 16h30 já só podia ir busca-la às 17h30. Lá voltei pelas 17h30 mas tive ainda que esperar mais um pouco dado o atraso de terminus da aulas. Mas, para onde íamos a seguir? Ballet às 18h... ainda tivemos que ir a correr para ela poder frequentar logo de seguida a aula de ballet. Pergunta-se: onde está a hora e meia a duas horas que a minha filha tem direito a conviver com o seu pai diariamente? ah.. a flexibilização. Essa, que em vez de permitir um maior convívio tem-se mostrado afinal como forma de redução lenta e subtil do tempo que passamos juntos.
Mas o melhor foi hoje. Amanhã vou para o estrangeiro em trabalho. A minha filha faz anos na 5ªf, ou seja, não vou estar cá nem para festa de anos dela na escola nem para a festa de anos com os amigos no fim-de-semana. Hoje tinha um dia bem complicado, cheio de coisas administrativas a tratar em Lisboa e andei de um lado para o outro aflito para poder conseguir estar despachado às 16h30 para estar com a minha filha. Cheguei a almoçar qualquer coisa só às 15h30 para poder cumprir este horário. Chegado à escola ela brincava com os amigos e ainda fiquei ali com ela e com os amigos da escola mais um pouco. Depois como estava muito frio perguntei-lhe se queria ir para minha casa ajudar-me a fazer a mala, ao qual ela respondeu muito contente que sim. Lá fomos para casa. Estivemos a arrumar a minha mala. Eu escolhia a roupa e ela colocava na mala. Andamos no Popo, até eu cheguei a andar. Aquilo com um adulto em cima anda mais depressa. Ela empurrava-me. Até me ajudou a arrumar os CDs para levar para o estrangeiro. Estavamo-nos a divertir basicamente. É então que recebo o telefonema da mãe que diz que tem que ir buscar a avó dela (bisavó da minha filha) à estação de comboio em Lisboa. Oficialmente tinha sido informado pela primeira vez desta situação (curioso o pai ausentar-se e a bisavó e afins com quem o pai foi e é injustamente marginalizado aparecerem). Mas já estava à espera, visto que mal tinha chegado à escola da minha filha, a mesma tinha-se encarregue de espalhar por todas as amigas da escola que a avó (cuja distinção para bisavó ainda não sabe fazer) vinha hoje. Mas a táctica do facto consumado continua, tal como sempre foi para com a minha pessoa. Pedi à mãe que me a deixasse estar em minha casa a brincar comigo, enquanto ela ia buscar a avó. Um pedido perfeitamente normal para quem vai ficar sem estar com a sua filha quase 1 semana e ainda por cima nos aniversário dos seus 4 anos. Ao meu pedido o tom de voz alterou-se logo, foi-me referido o acordo (pergunto qual acordo? aquele em que fico com as manhãs e os fim-de-semanas 15 em 15 dias?) era entrega-la às 18h e que ela tinha prometido (pelos vistos à avó dela) que a minha filha iria lá estar para a receber na estação de comboios. Ao que voltei a pedir, dada a situação extraordinária, quer esta semana, quer durante o mês de Novembro, no qual dou 9h de formação por dia, além do trabalho que tenho que fazer na minha própria empresa. Convencida do seu poder ascendente sobre a nossa filha resolver dizer-me para eu perguntar a ela o que ela queria. Surpreendentemente para a mãe, a minha filha disse que queria ficar com o pai a arrumar a mala de viagem dele. De um momento para o outro a vontade da filha já não tem importância, quando em tantas outras situações, como as manhãs, ser uma vontade a respeitar e a não contrariar (pergunto-me onde está o agente educativo aqui). A consessão da mãe foi de eu a entregar às 18h15 em vez de ser ás 18h. Digamos que não faltava muito e todo o ambiente já estava condicionado por um tempo, como se tratasse de uma prestação de serviço à hora. Junte-se a isto o significativo vento e frio que já se fazia sentir por volta das 18h.

Onde está o superior interesse da minha filha? não é para o bom desenvolvimento e bem estar dela que o convivio quotidiano e de qualidade se faça com os dois progenitores? que se faça o máximo possível com toda a família alargada? sim, porque os meus pais, avós da minha filha, nunca são convidados para nada. Nem para o aniversário da minha filha, na ausência do pai (para quem sabe, alienação parental faz-se por via de todo um lado da família de um dos progenitores). Teriam os avós paternos que lutar pelo direito à convivência da neta com eles? bem, podendo fazer isso, não o querem, porque estão cansados de conflitos sobre uma coisa que deveria ser natural: a partilha de afectos e da vida quotidiana. Como gostam de dizer os juristas, o Direito não tem afectos, mas acha que sabe os efeitos que as suas decisões têm no cidadãos. Pois em matéria de Direito de Família não sabe praticamente nada (não é assunto deste post, mas basta relembrar que em Portugal o Direito de Família é exercido por magistrados cuja visão é do Direito Criminal), muito menos em relação às novas conjugalidades, novos afectos e realidades sociais. Bem, mas os meus pais escolhem as lutas que querem ter e só espero que um dia em breve o convívio normal e frequente da minha filha com os avós (de qualquer dos lados e não só de um) possa ser possível.

Por fim não deixa de me vir à cabeça um pensamento, já que nunca gostei muito de andar de avião (apesar de ter dado os meus primeiros passos em pequenino num deles): e se por alguma razão o avião cair? aquele pequeno e último momento que tive com a minha filha, que deveria ter sido divertido, afectuoso acabou por ficar na minha memória como a necessidade de cumprir horários. Não será de facto por mais uma hora que iria afectar o quer que seja sobre um acidente aéreo, mas iria afectar a minha memória e a da minha filha. Não que isto seja relevante, pois podemos morrer em qualquer lado e a qualquer altura. Mas mais uma razão para podermos partilhar todos os nossos momentos. Os meus e os da minha filha, além das contigencias quotidianas por que todos passamos, como o facto de termos que trabalhar afastados dos nossos filhos, é condicionado, de forma injustificada e moralmente criticável, pela necessidade da mãe em nenhum momento querer prescindir e/ou partilhar os 90% do tempo que a minha filha tem livre com ela, com o pai dela.

E neste momento lá foi a minha filha buscar a bisavó à estação de comboio.. mal cheguei a casa deu-me vontade de escrever isto. Sei quem lê, mas nada disso me preocupa.

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posted by Mikasmokas @ 10/28/2008  
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