Isabel Marques da Silva / VISÃO nº 742 24 Mai. 2007
«Nos tribunais ouve-se muitas vezes dizer que o interesse da criança é algo abstracto. Não é. O superior interesse de qualquer criança, salvo raríssimas excepções, é ter na sua vida a presença do pai, da mãe e da família alargada», diz Maria Saldanha Pinto Ribeiro, 65 anos, sobre a decisão habitual dos juízes de entregarem a poder parental à mãe, em casos de divórcio com filhos. A psicóloga e mediadora familiar observou, nas últimas duas décadas, inúmeros casos em que este «preconceito maternal» na guarda das crianças acaba por afastar o outro progenitor.
Este poder sobre os filhos, aliado à raiva e o desgosto pelo divórcio, lançam muitas mulheres numa cruel vingança, da qual as crianças são as maiores vítimas. Algumas vezes, estas mães usam uma arma que se tem revelado eficaz e muito destruidora: as falsas acusações de assédio sexual de pais aos filhos. No livro Amor de pai (Livros D’Hoje/D.Quixote), Maria Saldanha Pinto Ribeiro desmonta todo o processo da Síndrome de Alienação Parental, mas dá também voz a dois pais.
São homens que queriam estar muito presentes na vida dos filhos, nas tarefas e actividades de todos os dias. Com uma insinuação torpe, deixam de os poder ver, ou só o fazem supervisionados por técnicos. «Já viu o que é uma criança ter de se encontrar com o pai num sítio que não conhece, com alguém a tomar notas do que se passa? Há crianças que vomitam antes de ir. As mães dizem que é por irem ver os pais, mas as crianças vomitam é esta loucura dos humanos», conta Maria Saldanha Pinto Ribeiro. A psicóloga acrescenta que há pais que não querem sujeitar os filhos «a esta violência», mas que cedem porque «é a única forma de não perderem o contacto com elas».
Uma vez instalada a Síndrome de Alienação Parental, «perde-se a imagem de honra, de autoridade, de liderança daquele pai. As crianças vêm-no como um badameco, alguém que lhes pode fazer mal», explica a psicóloga. Se a culpa inicial é da mãe, que pôs em marcha o processo, há outros intervenientes que não se coíbem de o levar até ao limite. «Há advogados sem escrúpulos que não se preocupam nada com o bem-estar das crianças; só lhes interessa ganhar os processos. Conhecem os passos que têm de ser dados para chegar a este resultado».
O pai de Vera e o pai de Rita e Paulo conseguiram provar a sua honorabilidade ao fim de muitos anos de batalha jurídica, mas perderam, possivelmente para sempre, o amor dos filhos. A VISÃO publica alguns excertos da sua colaboração no livro.
Excertos
O pai de Vera
«Eu interessava-me pelo dia-a-dia da minha filha: vivia para ela, levava-a a passear com as amigas. Ensinava-a, protegia-a. Fui pai tardiamente e fui sempre filho único, acho muito naturais as minhas preocupações de então».
«Durante alguns meses sou instado para que saia. E os hábitos da casa vão ser alterados, no sentido de me porem de lado. A nossa filha passa a dormir com a mãe noutro quarto. (...) Eu nem imaginava, mas o contexto que irá permitir a insinuação de assédio já estava a ser construído».
«Pus contra mãe um processo-crime. Por difamação. E sabe que perdi? Elas vêm dizer que nunca me acusaram de nada. Eram apenas suposições».
«O tribunal levou cinco anos para dizer que eu não sou um pai perverso e que não resultaram provadas quaisquer práticas de assédios ou abusos sexuais sobre a Vera, minha filha. Cinco anos para eu perder irremediavelmente a minha filha, que já me não quer ver».
O pai de Paulo e de Rita
«Um dia antes de eu ir com eles de férias, o tribunal recebeu uma carta dizendo que a mãe soube de um episódio aterrador, passado três ou quatro meses antes. Eu teria, na companhia de uns amigos, em casa, visto filmes pornográficos, na companhia deles e da minha filha Rita».
«Punha palavras na boca do nosso filho que eram dela. Dizia que o filho se refere ao pai como esse homem. Dizia que eram palavras do Paulo. Mas, evidentemente, eram dela. Ele repetia o que a mãe ou os avós quisessem e lhe ensinassem».
«A minha ex-mulher foi condenada a 120 dias de prisão pagos, e 3500 euros de indemnização por danos em relação a mim. Mas nada veio repor o que senti e ainda sinto hoje, e o mal que me foi feito. Nunca mais vi os meus filhos. A mãe manda dizer para eu os ir ver a casa dela. A minha filha tem medo, terror. Não a quero constranger mais».