Reflexões de um Caracol à Beira da Estrada
Será a experiência estética a experiência do mundo.... o devir é um devir estético... ou será que devo atravessar a estrada?
segunda-feira, julho 18, 2005
Revolução Cubana


Revolução Cubana

O processo liderado por Fidel Castro é descrito até hoje como a mais radical mudança política no cenário latino-americano. Afinal, Cuba tornou-se, a partir de 1959, o primeiro país socialista do mundo ocidental e o único em que tal regime sobreviveu, quebrando a hegemonia norte-americana no continente e o "anti-comunismo" que esse domínio pregava e combatia – o golpe militar de 1954 contra o presidente Jacobo Arbenz, de tendências socialistas, na Guatemala, expressa bem isso. Hoje, mesmo com a queda do mundo soviético, o país insiste em se denominar socialista e resiste a uma total abertura econômica, guiada pelos organismos internacionais como FMI e Bird.
A Cuba moderna, segundo o sociólogo Emir Sader, incomoda os outros países por ser fruto de uma revolução que, negando os EUA, deu certo e mudou a estrutura social, apesar dos problemas econômicos e políticos que enfrenta na atualidade.
Sader considera que uma revolução implica numa total transformação do sistema sócio-produtivo da nação, instalando um novo sistema e dando à sociedade novas condições de sobrevivência. Para ele, a guerrilha de Fidel Castro, ao tomar o poder, tinha em mente a necessidade de modificar a estrutura cubana para conseguir o apoio da população e autonomia internacional. É fundamental entender como era tal estrutura antes de Fidel assumir o comando político de Cuba. Incentivada pela colonização espanhola, a ilha se tornou grande produtora de açúcar, cuja venda na Europa enriquecia os senhores locais e atiçava seus desejos de independência para se libertar dos impostos coloniais. O processo de libertação do domínio espanhol se consumou em 1898, mas o novo país, localizado a poucos quilômetros dos Estados Unidos, não escapou da ingerência econômica e política desta nação. Desde o início do século, os norte-americanos se instalaram em Cuba, controlando o comércio de açúcar e todos os demais setores da economia agrária. Os latifúndios dominavam a maior parte do território, reinando a exploração dos camponeses e a opressão política nos centros urbanos. Os EUA faziam e desfaziam presidentes à sua vontade, até que o sargento Fulgencio Batista, a partir dos anos 40, dominou a cena política cubana e acalmou, à base da repressão, as diversas manifestações que eclodiam no país contra a recessiva política econômica e os privilégios norte-americanos. Um dos levantes que conteve foi em 1953, no assalto ao quartel Moncada liderado por um jovem advogado chamado Fidel Castro. Extraditado de Cuba com outros colaboradores, Fidel foi viver no México para, três anos depois, retornar e promover, a partir das sierras e com o apoio camponês, a guerrilha contra a ditadura de Batista. Mesmo com parcos recursos e poucas armas, o exército guerrilheiro cresceu e derrotou a maior parte das forças de Batista, assumindo gradualmente o controle dos principais distritos do país. Quando chegou à capital, Havana, em 1º de janeiro de 1959, Batista já fugira para a República Dominicana, e Fidel foi proclamado presidente e primeiro-ministro.
Após assumir o poder, os revolucionários tiveram, de cara, de enfrentar o governo norte-americano, que ordenou a saída de todas as empresas nacionais do território cubano e decretou o embargo econômico contra o país após a fracassada invasão da Baía dos Porcos, em 1961. A medida norte-americana foi seguida pela maior parte dos países do continente, que romperam as relações comerciais com Cuba e inclusive votaram por sua exclusão da Organização dos Estados Americanos (OEA). De uma hora para outra, Cuba teria de buscar novos parceiros para sobreviver e, principalmente, cumprir seus objetivos de transformação social. Para tanto, optou, em contrapartida ao capitalismo, pelo socialismo e por acordos com os países do bloco liderado pela União Soviética. Vendendo açúcar e níquel a essas nações, Cuba recebia em troca maquinaria pesada e petróleo para desenvolver indústrias de bens de consumo e gerar, com a diversificação das exportações, divisas que permitiam a manutenção de serviços públicos gratuitos à população. A saúde e a educação, entre outros, deixaram de ser privilégio daqueles que poderiam pagar, pois se tornaram serviços estatizados. Além disso, o governo passou a mandar anualmente os universitários ao campo, para ensinar os camponeses a ler e escrever. O resultado desse processo contínuo é visível até hoje. Cuba é o país com maior índice de alfabetização no continente, com 85%. O tratamento de saúde é mantido pelo Estado, e os equipamentos são elogiados ao redor do mundo pela qualidade e tecnologia.
A própria estrutura produtiva – o campo – foi transformada. O primeiro ato do governo revolucionário foi promulgar uma Lei de Reforma Agrária, que determinava a nacionalização de terras improdutivas pertencentes a empresas norte-americanas e latifundiários. Além disso, o governo tomou para si terras que foram abandonadas pelos donos, que fugiram com a vitória guerrilheira. Aos camponeses foram oferecidas duas alternativas: a organização em cooperativas ou a posse individual da terra. O Estado importou maquinaria agrícola, treinou técnicos para ensinar os novos proprietários como gerir a terra e usar os novos mecanismos de produção, incentivou a produção com apoio financeiro e subsídios. As safras de açúcar cresceram e novas culturas foram desenvolvidas, como o tabaco e frutas cítricas. O índice de desempregados e empregados sazonais (durante as safras) diminuiu, com a posse efetiva da terra. Nas cidades, o crescimento industrial e novos serviços, como o turismo, também ofereceu oportunidades à população.
Com o fim da União Soviética, em 1991, e consequentemente de seu principal mercado de açúcar, Cuba enfrentou uma séria crise interna, com diminuição da produção industrial e redução do abastecimento de energia. Mesmo assim, o país sobrevive, ao reatar suas relações com os países latino-americanos e europeus e visualizar, ainda que distante, um princípio de abertura por parte dos EUA. A crise cubana levantou sérias dúvidas quanto à validade do regime de Fidel e as conquistas do país durante seu governo.
É claro que, no sentido mais liberal, o governo de Fidel não é democrático, ao negar o direito às eleições e perpetuar-se no poder. No entanto, sob seu comando Cuba conseguiu a tão procurada "revolução": de um país agrário-exportador e constituído de uma população predominantemente rural e explorada, tornou-se uma nação com economia diversificada e que oferece a seus habitantes condições de vida mais dignas do que muitos países latino-americanos. O exemplo cubano soou no continente durante os anos 70 como um modelo de libertação do imperialismo norte-americano, e até hoje atrai muitos movimentos sociais e guerrilheiros à sua causa. Por mais contestado que seja, o exemplo de Cuba mostra que a transformação radical da sociedade é possível se houver interesse e mobilização popular.

posted by Mikasmokas @ 7/18/2005  
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home
 
About Me

Name: Mikasmokas
Home:Lisboa
About Me:queria eu saber
See my complete profile
Previous Post
Archives
Shoutbox

nada a declarar

Links
Free Hit Counter
Free Counter

PageRank
Powered by

Blogger Templates

BLOGGER